Olá pessoal! Hoje vou falar de um tema da atualidade…

Vejo muitas pessoas a falar sobre esta pandemia que nos rodeia e a opinião de cada um deles. Devido a toda a informação que circula constantemente nas notícias, redes sociais e em todos os outros sítios, é normal termos duvidas sobre certos aspetos do que é falado.

“Covid-19| Mitos, verdades e implicações futuras” é a minha forma de partilhar algumas perguntas e respostas que na minha visão são mais importantes. O português de certeza que não é o melhor, mas tentei dar referência a tudo o que digo, pois, não represento (obviamente) um órgão oficial do governo nem, sou alguém com credibilidade estabelecida na área. Sou apenas uma pessoa que se interessa pelo assunto e quer passar a mensagem mais factual possível. Então sem mais demora, Coronavírus:

O QUE É?

Os coronavírus são conhecidos desde os anos 60. A maioria das estirpes afeta os animais, podendo por vezes passar para o ser humano.

São conhecidas 7 estirpes que podem causar doenças em seres humanos. Elas são: 

  • As estirpes  229E, NL63, OC43 e HKU1 que provocam formas ligeiras da doença, por isso não importam muito;

  • A estirpe SARS-CoV que em 2002/03 atingiu cerca de 10 mil pessoas e fez quase 800 vitimas;

  • A estirpe MERS-CoV que atacou o Médio Oriente em 2012 e ainda se mantém ativa;

  • O novo coronavírus 2019 SARS-COV-2 (“síndrome respiratória aguda grave – coronavírus 2”) que é a estirpe que provoca a doença COVID-19 (de “Corona”, “Vírus”, “Doença” e “2019”), que pode causar infeção respiratória grave como a pneumonia.

O QUE FAZ?

Os coronavírus são incríveis! Eles têm o genoma mais complexo de todos os vírus, e existem há mais de 290 milhões de anos!

Por outro lado, têm uma fraqueza: têm uma membrana frágil que facilmente se destrói com sabão, álcool, calor e antimicrobianos na nossa pele.

O vírus entra no nosso corpo, geralmente, pelo sistema respiratório ou pela corrente sanguínea e ataca os intestinos, o baço e outros órgãos, mas o principal afetado é o sistema pulmonar. O vírus tem que entrar na célula antes de a membrana se desintegrar, e para isso usa 2 métodos:

  • Endocitose – O vírus engana a célula para ser absorvido – É o método utilizado pelo vírus da gripe

  • Fusão de Membranas – O vírus liga-se a uma proteína da superfície celular e funde a sua membrana com a da célula – É o método utilizado pelos vírus do HIV e da herpes.

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Figura 1 - Diferentes métodos para o vírus entrar na célula

Como os coronavírus utilizam ambos os métodos para entrar nas células, eles são particularmente difíceis de bloquear. Há maneiras, mas está fora do objetivo deste texto.

Bom, depois de entrar, o vírus multiplica-se dentro das nossas células e destroí-as. Isto torna-nos mais vulneráveis a infeções bacterianas. O nosso sistema imunitário, ao ver isto, vai combater o vírus e quaisquer outras bactérias oportunistas. No entanto, a reação do nosso corpo para combater o ataque não é a melhor e leva a inflamação. Esta inflamação, principalmente nos alvéolos pulmonares impede as trocas gasosas com o sangue – oxigénio para o sangue e dióxido de carbono para fora -, o que pode causar uma infeção respiratória grave como a pneumonia (por isso é que muitas pessoas precisam dos ventiladores, a inflamação impede-os de respirar adequadamente). Para uma explicação mais aprofundada ver este vídeo e este.

DE ONDE PROVEM?

 
Bem, há muitas teorias da conspiração aqui… O coronavírus provém, quase de certeza, de um morcego, provavelmente um morcego-de-ferradura-pequeno. Não é uma arma biológica, não vem de uma cobra, não vem de uma sopa exótica (a temperatura da sopa matava o vírus xD) e também não vem do 5G (que é a teoria que faz menos sentido…)

Os morcegos têm centenas de vírus dentro deles entre os quais o ébola e o SARS. Eles parecem tolerar melhor a existência do vírus que nós porque têm um sistema imunitário que não reage de forma tão drástica como o nosso, prevenindo inflamação.

Peter Daszak em 2010 previu que isto poderia acontecer. Nesta TedTalk fala dos principais perigos que corremos e do local onde é mais provável que o próximo surto apareça. A Ásia era uma dessas zonas com maior risco de contágio, devido à elevada presença de vida selvagem e interação com a mesma.

 

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Figura 2 - A vermelho as zonas com maior risco de infeção, a verde as zonas de menor risco.

O provável é que apenas uma pessoa tenha sido infetada – caso mais que uma fosse infetada deveria existir mais mutações – provavelmente alguém foi mordido por um morcego ou um talhante entrou em contacto com o sangue de um, ou respirou o vírus de algum modo… (também pode ter sido um descuido de alguém do Instituto de Virologia de Wuhan, que estudam morcegos com várias categorias de vírus, que se descuidou e ficou infetado).

Porque começaram a aparecer agora dos anos 2000 para a frente e antes não? 

Não se sabe bem a causa… Li que pode estar relacionado com migrações por parte dos animais devido a alterações climáticas ou que pode ser devido ao cada vez maior contacto entre animais exóticos e seres humanos à medida que vamos explorando mais as florestas onde estes habitam, mas não encontrei uma causa em concreto que todos concordassem… talvez seja uma mistura de várias coisas.

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS PERIGOS?

 
A meu ver, há 2 riscos principais aos quais se deve ter atenção:

Risco de contaminação – Uma coisa chata deste vírus, quando comparado com outros, é só manifestar sintomas ao fim de alguns dias. Podemos já ter contraído o vírus e estar a espalhar sem o saber. Deixamos um rasto viral na nossa casa, na comida, nos botões do elevador, nos restaurantes, nos supermercados,… 

Segundo este estudo publicado no “The New England Journal of Medicine”, as superfícies onde o vírus é mais estável são em aço inoxidável e em plásticos, onde após 72 horas era possível ainda detetar o vírus – em quantidades reduzidas. Os materiais estudados foram o cobre, o cartão, o aço inoxidável e o plástico, pelo que podem existir outras superfícies onde o vírus aguenta mais tempo, mas é seguro dizer que ao fim de 5/7 dias não existam vestígios do mesmo. 

Estudou-se ainda a permanência do vírus no ar, em aerosois. Tenho noção que existe a ideia de que o vírus não fica no ar muito tempo, porque está envolvido em gotículas, que são mais pesadas que o ar, por isso caem. Isto não é completamente correto, certas “gotículas” tem menos de 5 micrómetros – 0,000005 metros – e não caem tão rapidamente como se possa imaginar. Um bom exemplo para conseguir entender como isto fica no ar é pensar em alguém que tem hálito a alho ou a tabaco e o cheiro se mantêm. As gotas super pequenas são chamadas aerosois, é como quando colocamos remédio para as moscas numa parte da casa e temos que esperar algum tempo até que o cheiro passe.

Como podemos ver na figura 3, após 3 horas, existe uma pequena diminuição, mas ainda existe uma grande quantidade de vírus no ar. Por isso é que se deve usar mascara, mesmo quando ninguém está à nossa volta na rua. Mas falo das máscaras mais para a frente.

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Figura 3 - Resistencia dos vírus em diferentes superficies

Risco de mutação – este é o outro grande risco que existe. Na https://nextstrain.org/ podemos acompanhar em tempo real a evolução de diversos patogeneos, incluindo o SARS COVID-19. Eles publicam também relatórios de situação em várias línguas, inclusive português, portanto se quiserem ver a evolução do vírus, as mutações que sofreu, em que lugar, os vários pontos de contágio, etc podem explorar!

O vírus tem uma taxa de mutação superior à de outros coronavírus e similar à do vírus da gripe – a população tem que ser vacinada contra a gripe todos os anos, porque o vírus sofre mutações e pode infetar-nos novamente, de modo que, saber a taxa de mutação é importante. Ainda, como disse antes, os coronavírus tem um genoma bastante grande para um vírus. Os vírus da gripe e do HIV têm genomas 3 vezes mais pequenos, por exemplo.
Isto pode ser uma vantagem ou uma desvantagem. Por um lado, tem mais variabilidade e isso pode significar mais armas para nos atacar, por outro, diminui a probabilidade de a mutação ser prejudicial.

Praticamente todas as mutações tornam o vírus menos eficiente, mas a verdade é que pode ser que um deles tem uma mutação no local certo, aquela possibilidade de 1 em milhares de milhões, e o vírus fica mais forte. É uma roleta russa a nível global. Estas mutações podem tornar a futura vacina menos eficiente e levar a reinfeções. Mas, segundo os especialistas, a probabilidade de isto acontecer é ínfima – mas não é 0, por isso é que há pessoas a vigiar estas coisas.

QUAIS SÃO OS TESTES EFETUADOS?

 

Há 3 testes principais:

  • O teste para encontrar o RNA viral – chamados testes PCR – em que eles colocam a zaragatoa (o cotonete) no nosso nariz ou garganta para retirar uma amostra. Se existir RNA viral nas amostras que recolheram, então é porque temos o vírus… Se der negativo, não quer dizer que não temos, só que a amostra que recolheram não tinha, então pelo sim pelo não, o melhor é que se continue a fazer isolamento se tivermos sintomas.

  • O segundo teste que todos conhecem é o teste aos nossos anticorpos. Este teste não deve ser feito para ver se uma pessoa tem o vírus, mas sim para ver se ela desenvolveu resistências contra o mesmo. Isto porque na fase inicial da infeção, o nosso corpo pode ainda não ter produzido anticorpos suficientes para serem detetados. A maneira como fazem este teste é retiram uma amostra de sangue e medem a quantidade de anticorpos presente no sangue. É ainda importante distinguir entre 2 tipos de anticorpos. Os “IgM” que são a resposta inicial do nosso corpo à infeção e os “IgG” que são mais específicos para o combate do vírus. Estes últimos são os que nos protegem de uma possível reinfeção. Costumam demorar 4 semanas a ser produzidos então ainda não se sabe quanto tempo eles permanecem no nosso corpo. O esperado é que seja pelo menos 1 ano, mas temos que ver…

  • O terceiro teste é Sequenciação de DNA que vai ser importante para acompanhar a evolução do vírus ao longo do tempo. O site que falei antes onde acompanham a mutação do vírus, eles sabem que há mutação, porque foi feita uma sequenciação do RNA do vírus e se viu a diferença.

O RNA contêm informação genética como o DNA, mas é mais instável e tem algumas funções diferentes. Ler diferenças entre DNA e RNA

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Figura 4 - RNA vs DNA

CUIDADOS QUE CADA PESSOA PODE TER?

Bem, a melhor maneira de não apanhar o vírus é não ir para um local onde ele está… Acho que todas as medidas de proteção já foram marteladas na cabeça das pessoas até à exaustão (então não vou fazer o mesmo). Todos sabemos que lavar/desinfetar as mãos é essencial, usar mascara também e que não devemos levar as mãos à cara. Em vez de falar disso, vou falar sobre as diferentes máscaras e o nível de proteção que fornecem e de algumas regras gerais que nos podem ajudar.

Em relação às máscaras que estão tipicamente há venda. já 3 tipos e têm funções diferentes…

  • Respiradores (Filtering FacePiece) um equipamento de proteção individual destinado aos profissionais de saúde
  • Existem 3 tipos ffp1, ffp2, ffp3. O indicado utilizar quando se lida com pacientes com COVID é o ffp2
  • Os respiradores podem ter válvula ou não. Os que não têm válvula são igualmente eficazes a proteger quem os usa e que essa pessoa transmita. Os que têm válvula não são eficazes a prevenir a transmissão
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Figura 5 - Respiradores
  • Mascaras cirúrgicas – um equipamento que previne a transmissão de agentes infeciosos das pessoas que utilizam a máscara para as restantes
  • Se tivermos o vírus não passamos para os outros, mas se não tivermos, não são tão eficazes como as anteriores para prevenir que sejamos infetados
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Figura 6 - Mascara cirúrgica
  • Mascaras não cirúrgicas – comunitárias ou de uso social, sem certificação, destinadas à população em geral. Estas são as que o artigo fala de certa maneira…
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Figura 7 - Mascaras não cirúrgicas

Estes são os tipos gerais que existe. Já sabemos que existe a lengalenga toda do “devemos usar mascaras? Não devemos?” pronto, claro que o ideal é todos usarmos, mas como não há máscaras para todos, a Organização Mundial da Saúde e os governos disseram para não usar. Fizeram bem, há quem precise mais. No entanto, como agora vai chegar uma altura em que mais tarde ou mais cedo temos que começar a sair, dá jeito usar máscara por alguns tempos. A questão é tem que ser uma máscara daquelas da farmácia? Pode ser um pedaço de pano? Como é?

Vou seguir este estudo da Universidade de Cambridge que testou a eficácia de diferentes materiais na captura de partículas virais. Testaram 2 microorganismos, um com o tamanho de 0,2 micrómetros e outro com 0,9 micrómetros, por isso ambos menores que os 5 micrómetros que eu tinha dito a cima. Se servirem para apanhar estes, também apanham os outros. – Para quem for ver o artigo, os dados que apresento na figura 8 são adaptados da tabela 1.

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Figura 8 - Materiais que podem ser utilizados para fabrico de máscaras

Como é possível verificar, mesmo um cachecol tem um efeito protetor grande, então qualquer coisa é automaticamente melhor que nada.

E associando este estudo ao que vimos mais a cima, relembro que as máscaras são recicláveis. Se o vírus ao fim de 3 dias já praticamente desapareceu da nossa mascara, podemos utiliza-la novamente sem preocupações. Se tiverem que sair todos os dias e tiverem a possibilidade, podem ter 5 mascaras de pano e usam uma em cada dia da semana. De certeza que quando voltarem à primeira esta já não está contaminada com o SARS COVID. Se as máscaras forem de pano, podem também simplesmente lava-las a alta temperatura ou com detergente e ficam desinfetadas =)

Fora isto das máscaras, o que podemos fazer?

Bem, uma coisa bastante importante é verificar a humidade nas nossas casas e locais de trabalho e garantir que está perto dos 50%. Baixa humidade (20-35%) aumenta significativamente a taxa de infeções virais respiratórias. Isto porque com baixa humidade a nossa camada mucosa não se consegue manter e perdemos uma camada protetora. Outra coisa que ajuda a manter esta camada é beber agua! A desidratação não é só causada por baixa humidade, também temos que ingerir água xD

Fazer exercício também ajuda, especialmente levantar pesos e cardio, porque aumenta a capilaridade e a produção de glóbulos vermelhos (responsáveis pelo transporte do oxigénio para as células. Por isso mesmo com a doença, temos mais veículos de transporte, o que ajuda sempre)

Depois há preocupações mais específicas que sinceramente eu não faço e não espero que a maior parte das pessoas faça, mas vou deixar aqui algumas: manter os níveis de ferro e de vitamina D3 num nível saudável, normalmente temos um défice e eles fortalecem o sistema imunitário. Manter o nível de açúcar no sangue baixo, comer plantas, principalmente plantas coloridas porque ativam as nossas defesas (por razões que não vou falar aqui xD podem ler “Xenohormesis: health benefits” ou “Health through stressing fruits and vegetables” para ver mais sobre o assunto.)

Mais, incluir nozes, abacate e azeite na dieta, o acido oleico também melhora as nossas defesas.

Fora isso é manter um pensamento positivo, aprender algo novo, ter uma rotina, não ver muitas noticias negativas (que estão em todo o lado xD) e ter uma boa noite de sono 😃

MEDIDAS QUE ESTÃO A SER TOMADAS PELO MUNDO?

 
Na minha opinião, há 3 estratégias diferentes que foram implementadas por todo o mundo, algumas com melhores resultados que outras…
 
A primeira é a estratégia seguida, por exemplo, por Singapura e Macau. Talvez por já terem experienciado anteriormente uma infeção devido ao SARS (em 2002/03) rapidamente impuseram restrições de voo, medindo a temperatura a qualquer pessoa que entrasse no país e impondo uma quarentena obrigatória de 14 em casa ou em hotéis, caso não tivessem residência. Graças a estes esforços iniciais, contiveram o vírus antes de ele existir ou nos primeiros casos e como consequência continuaram as suas atividades económicas, tendo todas as precauções possíveis, mas estabilizando o país em termos de saúde publica e económicos. – Singapura depois acabou por ter um deslize um bocado idiota, em que ao repatriar os seus cidadãos de outros países, disse-lhes para fazer quarentena de 14 dias em casa. Mas não obrigou a que as pessoas que vivem com eles também o fizessem, o que causou que o vírus se espalhasse e agora o país está também de quarentena. Dito isto, a maneira como lida com a situação continua a ser um exemplo para grande parte dos países. Convido todos os interessados a lerem estes dois artigos de opinião sobre Singapura. Primeiro este “Singapore: What We Can Learn From a High-Risk Country’s Response to COVID19” e depois “Singapore: Braving the Second Wave of COVID19” onde explicam as medidas tomadas durante a crise.
 
Depois tem a segunda estratégia, que é a adotada pela maior parte dos países da União Europeia (não verifiquei todos os países do mundo então não sei bem o que fazem xD). Esta passa por não perceber o quão perigosa poderia ser esta pandemia, por isso não ter um controlo fronteiriço forte o suficiente para conter os casos de infeção a um mínimo possível (com regras como restrição de voos, verificação das temperaturas e quarentenas impostas a quem viaja) e depois de se aperceberem que já não seria possível conter com essas restrições, cancelaram eventos desportivos, concertos, qualquer grande ajuntamento e colocaram o país em quarentena, fazendo um esforço para “achatar a curva”. Esta foi a estratégia Portuguesa, felizmente atuamos rapidamente, comparado com países como a Itália e a Espanha, e conseguimos achatar a nossa curva e estabilizar o crescimento. Começamos a aplicar restrições sérias no dia 12 de março, antes de entrar no estado de emergência no dia 18.
 
Por fim há a terceira estratégia, adotada por países como o Reino Unido, a Holanda, a Suécia, de certo modo os Estados Unidos, entre outros. Tal como os países que adotaram a segunda estratégia, foram demasiado lentos a aplicar restrições de voo, quarentenas para quem viaja e todas essas medidas. Decidiram, no entanto, que não era preciso colocar o país em quarentena. Claro que há diferenças entre estes países e na maneira como gerem a situação. Há uma montanha de medidas intermédias entre quarentena/não quarentena que cada país aplica conforme acha correto. O certo é esta estratégia pode não correr muito bem e quando se apercebem que falhou, acabam por aplicar medidas de quarentena.
No Reino Unido e nos Estado Unidos, sinceramente a gestão não foi muito boa e foram forçados a recorrer à quarentena e a prejudicar a tão amada economia =(
A Holanda está agora a tentar algo ligeiramente diferente com uma “quarentena inteligente“. O objetivo principal não é atingir a imunidade de grupo, mas será uma consequência. É mais arriscado, vamos ver como corre.
A Suécia, parece ser o país que melhor lida com a situação e sente que para já tem o problema controlado – apesar de ter o dobro dos casos das vizinhas Dinamarca e Noruega – e ainda não aplicou medidas de quarentena no país, mas afirma que está pronta para tomar medidas mais severas caso seja necessário.
Estratégias como a da Holanda e da Suécia, apesar de controversas, fazem sentido e podem resultar. É um tópico complicado e incito o leitor a pesquisar mais sobre o assunto. (ler as ligações que coloquei nos dois últimos parágrafos dá para ter uma boa ideia.)
 
Fora isto tudo, está a China, que por estar no epicentro da pandemia não pode ser incluída em nenhum destes grupos. A China, apesar de ser o local onde o vírus se originou, agiu rapidamente com medidas de confinamento, tratamento e vigilância. Talvez de um modo que não fosse possível em democracias, mas efetivamente conseguiram estancar o problema. “O lado negro do sucesso da China na luta contra o coronavírus” toca principalmente no ponto da videovigilância.
 
A melhor estratégia, na minha opinião, continua a ser a de Singapura.
A melhor forma de mitigar a infeção é com a regra dos três T’s – Test, Track and Treat
  • Testar – fazer o máximo de testes à população para ter ideia das pessoas infetadas e quantas são assintomáticas, que é algo ainda desconhecido
  • Rastrear – descobrir as linhas de infeção (quem cada pessoa pode ter infetado) e agir. Rastrear também inclui a utilização de aplicações como a que a Google e a Apple estão agora a desenvolver e permite sabermos se estamos perto de alguém infetado. (A Singapura já tem isto há 1 mês, chama-se TraceTogether – sim, podemos dizer que viola a privacidade das pessoas… só estou a dizer que funciona…)
  • Tratar – cada país vai ter capacidades diferentes de resposta. O necessário é entender onde alocar os recursos e agir com calma e eficiência

Fora as medidas de prevenção que cada país toma, está também a ser feito um esforço para se encontrar formas efetivas de tratamento do vírus. Há tratamentos em 3 escalas de tempo:

  1. Os que ainda demoram – todos conhecem, são as vacinas. O FDA e outras instituições agilizaram o processo e a previsão é que dentro de 18 meses exista uma vacina para o vírus. 

  2. Os que ainda não existem, mas chegam mais rápido que a vacina – maioritariamente são medicamentos que ainda não foram descobertos/utilizados e que estão a ser testados no combate ao vírus.

  3. Os que podem ser utilizados agora –  é o reaproveitamento de medicamentos, como, por exemplo, o medicamento para a malária – Cloroquina. E é a “convalescent antibody therapy” (não tenho a certeza da tradução). É uma terapia com anticorpos que consiste no tratamento de pacientes infetados com o plasma de pessoas que já recuperaram da infeção. – Quem já recuperou tem anticorpos no sangue para se proteger, então retiramos amostras de sangue quem já recuperou e colocamos em infetados. Os anticorpos vão combater o vírus e ajudar o infetado a recuperar.

 

Ao todo há no momento pelo menos 57 medicamentos e 39 vacinas em estudo neste momento e todos os dias há mais desenvolvimentos. (eu posso aprofundar o tema falando sobre cada vacina e medicamento e o que fazem, dentro do meu conhecimento caso queiram. Comentem ou falem comigo caso isso seja de interesse e pode ser que faça uma publicação sobre o assunto no futuro.) Alguns dos tratamentos já estão a ser testados em animais e em pessoas. Nós só temos que esperar que as pessoas inteligentes façam o trabalho =)

IMPACTO DO VÍRUS

 
Falei até agora do que podemos fazer na nossa vida para controlar o vírus e o que os vários países estão a fazer. Independentemente das precauções todo o mundo vai sentir o impacto causado por esta pandemia.
Independentemente do país, vão sentir impacto na saúde na economia. Dependendo do país ou de quem o governa, há quem coloque primeiro a saúde e depois a economia e há quem tente colocar primeiro a economia e depois a saúde. 
Ambos estão conectados e o SARS COVID -2 revelou os pontos fracos da maior parte dos países. Pode ser uma falta de profissionais de cuidados de saúde em diferentes áreas, uma dependência económica de certos setores, uma dependência das importações/exportações de certos bens, falta de preparação para infeções que se espalhem rapidamente ou simplesmente má gestão por parte do governante

Um impacto secundário que se calhar não se esperava foi o cessar de guerras “Saudi Arabia declares ceasefire in Yemen over coronavirus“, se bem que foi por pouco tempo… “Fighting escalates in Yemen despite coronavirus ‘ceasefire’“, mas pronto, ficou a intenção…

Em Portugal, estamos em quarentena até ao final de abril. Temos cerca de 1 milhão de pessoas em lay-off, nos últimos 14 dias 32 mil cidadãos inscreveram-se no centro de emprego. Segundo o FMI, na projeção atualizada no World Economic Outlook divulgada esta terça-feira, 14 de abril, prevê que o PIB português se reduza em 8%, que o desemprego duplique e que a dívida pública aumente de 118% do PIB para 135%. É normal que isto aconteça, mais de 14% do nosso PIB vem do turismo, que agora vai diminuir muito, e quase 1 quinto do emprego português anda à volta do turismo. Para além disso, mais de 70% das nossas exportações são para a Europa, onde a procura irá, provavelmente, diminuir. Para juntar a este cocktail, o vírus pode voltar no próximo inverno.

Visto assim o impacto no nosso país está forte… Claro que não vamos ser os únicos, nem vamos ser os mais afetados! A maneira como o nosso governo vai lidar com a situação vai ser crucial e a resposta que cada um de nós vai dar terá um impacto importante.

FUTURO

 
Futuro… Especificamente em Portugal, como acabei de dizer, vamos sofrer um bocado. Mas já que tem que ser, pelo menos podemos aprender com isto e fortalecer os pontos onde mais trememos – isto por si só dava também uma publicação e bastante discussão, no entanto, julgo que é unânime que melhorias ao sistema nacional de saúde são necessárias, assim como reformas noutros setores do nosso país.
 
Em termos globais há 3 cenários para o que pode acontecer:
  1. Todas as nações derrotam o vírus ao mesmo tempo, como em 2003 – pouco provável tendo em conta o quão o vírus já se espalhou…
  2. Vamos ficar todos infetados e vai ser como uma gripe (só que 10 a 30 vezes mais forte e mais infecioso) todos os anos apanhámos o vírus. Vamos acabar muitas mais mortes e quem sobreviver fica imune…
  3. Vamos continuar a jogar pelo seguro, manter o número de infetados o mais baixo possível e esperar uma vacina para podermos prosseguir a nossa vida. – esta é a melhor opção, mas é a mais complicada e a que demora mais. – Vamos continuar a praticar o distanciamento social e a ter todos os cuidados possíveis para não contrair o vírus.

Assumindo este terceiro cenário, que é o mais provável, quem for imune ao vírus vai ter a liberdade de poder viajar com menos restrições, por o risco de voltar a contrair a infeção ser muito baixo. Assim, há a possibilidade de muitas pessoas quererem infetar-se propositadamente. É expectável que a saúde mental das pessoas esteja mais instável. Não vamos ter a certeza de quem tem ou não o vírus, o racismo contra pessoas asiáticas, por poder existir o estigma de “eles trouxeram o vírus!!”, é esperado e a possível distanciação de pessoas mais idosas – que já são de certo modo negligenciadas na sociedade – pode aumentar o seu sentimento de solidão. A isolação prolongada pela qual estamos a passar vai deixar algum “stress-pós-traumático” em todos nós.

Ao mesmo tempo, há o potencial para um mundo bastante melhor, com todas as demonstrações de solidariedade que têm existido, o mundo tornou-se mais humano agora que não tem tantas distrações.
Fora isso há coisas que provavelmente vão mudar devido a esta pandemia, como:

  • Vamos ganhar o habito a lavar as mãos mais frequentemente e vamos ter mais cuidado com a nossa higiene – do mesmo modo que o HIV levou ao maior uso de contracetivos e a um maior cuidado com DST’s;
  • O trabalho remoto vai passar a ser cada vez mais utilizado, agora que os trabalhadores e empregadores tiveram oportunidade de testar se funciona – quando alguém está doente e fica alguns dias a trabalhar em casa ou de modo a poder tomar conta dos filhos;
  • Um maior reconhecimento e preocupação com a saúde mental e problemas como a ansiedade ou a depressão;
  • Vai existir mais investimento para a investigação e reconhecimento de diferentes vírus e combate preventivo aos mesmos, de modo a  estarmos mais prontos da próxima vez que acontecer (que vai acontecer…);
  • Pode ser que muitas pessoas aprendam a viver com elas próprias agora que foram obrigadas a conviver 24 horas por dia consigo mesmas (esta é profunda xD);
 

Conclusão:

Fiz outra vez uma publicação um bocado extensa… Mas acho que este é o tamanho que me permite passar a mensagem de maneira clara. De certeza que existe muito mais para falar e posso voltar a escrever sobre algo relacionado com este assunto.

O meu objetivo com esta publicação foi o de desmistificar algumas coisas sobre esta pandemia e deixar alguns pontos de reflexão que suscitem curiosidade e te façam procurar mais.

Se estiveres à procura de algum local para receber notificações o vírus ou sobre a atualidade portuguesa, eu vou deixar aqui alguns dos locais onde eu vou buscar a informação sobre a atualidade. Nenhuma destas fontes é perfeita e não concordo a 100% com nenhuma delas, mas a perspetiva de cada uma delas é importante para formarmos a nossa opinião. Caso queiram seguir:

Coronavírus e saúde em geral:

David SinclairTwitter, ele coloca aqui atualizações, assim como escreve artigos e faz podcasts

Peter Attia – Deixo aqui o website

MedCram – Canal de Youtube sobre tópicos médicos

Para a atualidade portuguesa:

Oiço A Cor Do Dinheiro; o Governo Sombra; e o Eixo do Mal

Espero que tenham gostado do que leram e alguma coisa, estão à vontade para falar comigo! Até à próxima <3

Ricardo Ribeiro