Factfullness P2
Olá novamente! Esta publicação vai continuar a minha revisão deste livro. É a parte 2 de 3 e vai falar dos instintos de Linha Reta, Medo, Tamanho e Generalização. Caso não tenham lido a primeira parte, aconselho a lerem aqui, caso pretendam! Espero que gostem =)
Indice
O Instinto de Linha Reta:
Hans encontra este instinto associado à conceção errada de que “a população mundial está simplesmente a aumentar e aumentar”… A palavra importante aqui é o simplesmente, porque a população mundial está a aumentar, mas se calhar não da maneira que as pessoas pensam… Agora está muito na moda falar sobre sustentabilidade e uma das preocupações é que com o contínuo crescimento populacional a um ritmo como o atual não existam recursos para todos e algo tem que ser feito sobre o assunto.
Numa conferência na Noruega para professores que ensinavam tendências da população mundial nas aulas de ciências sociais, Hans fez a seguinte pergunta:
“Existem hoje no mundo 2 mil milhões de crianças dos 0 aos 15 anos. Quantas existirão no ano 2100, de acordo com a ONU?”
2 mil milhões
3 mil milhões
4 mil milhões
A resposta certa é 2 mil milhões, 9% dos presentes acertaram… A mesma pergunta noutros locais teve uma resposta semelhante. Isto é preocupante, porque o número de crianças é vital para as previsões de sustentabilidade. Efetivamente, se o número de crianças continuasse a aumentar era complicado… O que muitas vezes é aqui esquecido é que há uma correlação direta entre o número de crianças que cada mulher tem e o seu rendimento – quanto mais baixo, mais filhos se têm. Há 3 razões para isto:
- É necessária mão de obra para ajudar a família a trabalhar no campo, porque é o modo de subsistência que têm;
- Uma parte dos filhos morre antes de chegar à idade adulta
- Não existe educação sexual ou métodos contracetivos disponíveis.
Até há 200 anos, a população mundial manteve-se estável, as pessoas tinham muitos filhos, mas existia uma elevada taxa de mortalidade. O desenvolvimento social, económico e nos sistemas de saúde causou um rápido aumento na população mundial, porém, assim que atingimos um certo patamar, deixou de ser vantajoso ter uma descendência alargada. Com melhores condições de vida compensa às famílias apostar numa boa educação para menos crianças, pois já não dependem da ajuda das mesmas para o trabalho e estão a proporcionar-lhes melhores oportunidades de futuro. Assim, nos últimos 50 anos, o número de bebés por mulher diminuiu drasticamente.
Neste momento, 90% da população tem em média 2 filhos for família, estabilizando novamente o crescimento. Os restantes 10% são as pessoas que ainda se encontram na pobreza extrema ou no limiar. Se a preocupação é com o futuro das próximas gerações por poder haver escassez de recursos, a melhor maneira de o impedir é ajudar estas pessoas a ter um nível de vida melhor e assim eles não têm um incentivo a ter tantas crianças.
Dito isto, apesar de o número de crianças já não estar a aumentar, é projetado que até 2100 a população cresça até aos 11 mil milhões, porquê?
- As Nações Unidas preveem que a população mundial cresça por aumento no número de adultos, como sugerido na figura 1. Quem em 2015 tinha 15 anos, daqui a 15 anos terá 30 e em 2045 terá 45 (o meu irmão é um bom exemplo, porque nasceu em 2000).
- Assim, a curva projetada para o nosso crescimento não é uma reta, é em forma de S, como está representado na figura 2.
Do mesmo modo que se apenas considerarmos os últimos 50 anos podermos julgar que esta linha é reta, há outras tendências que não são o que parecem à primeira vista, com diferentes formas que não a reta ou a curva em S, por exemplo, mortes na estrada em função do nível de rendimento tem uma curva em forma de bossa. Pois, no nível 1 não há dinheiro para veículos motorizados, por isso há poucos acidentes com os mesmos. Nos países de níveis 2 e 3, as pessoas mais pobres continuam a caminhar na estrada enquanto outras começam a viajar em veículos motorizados. Como as estradas, regras de trânsito e educação rodoviárias não são as melhores, o número de acidentes atinge um pico e diminui novamente em países do nível 4.
O autor dá alguns exemplos de curvas que encontramos em diferentes situações. Podem ver essas curvas em https://www.gapminder.org/factfulness-book/lines/
Conclusão:
É bom lembrar que quaisquer 2 pontos unidos dão uma reta. As curvas podem ter diferentes formas, não devemos assumir que tem a forma linear. O exemplo do covid-19 é bom aqui, sabemos que não vai ser linear, não continua a subir para sempre! Vamos tentar procurar sempre qual a tendência olhando para o conjunto de dados disponíveis e não para uma parte dos mesmos!
O Instinto do Medo:
Este provavelmente todos conhecemos. A maior parte das pessoas tem medo de cobras, aranhas, alturas, lugares apertados, falar em público, ratos, etc… Todos estes medos estão incrustados no nosso cérebro por razões evolutivas. O medo de danos físicos, de cativeiro e de veneno ajudaram os nossos antepassados a sobreviver! Hoje em dia, as perceções destes perigos continuam a desencadear o nosso instinto de medo e facilmente encontramos histórias sobre eles:
- Danos físicos: Violência causada por pessoas, animais, objetos afiados ou forças da natureza;
- Cativeiro: Sequestros, perda de controlo ou perda de liberdade;
- Contaminação: com substâncias invisíveis que podem infetar-nos ou envenenar-nos
Este instinto continua a ser útil nos níveis 1 e 2. Por exemplo, medo de cobras, todos os anos morrem 60 mil pessoas devido a cobras, por isso é bom que se esteja atento e pronto a responder!
Por outro lado, nos níveis 3 e 4, onde a vida é menos fisicamente exigente e existe mais proteção contra a natureza estes instintos causam muitas vezes mais mal que bem… Aliás, há uma probabilidade considerável de tu que estás a ler isto teres um medo que te afeta o funcionamento normal da vida, como ter medo de andar de avião ou algo do género.
Para quem vive nos níveis superiores este instinto é um bocado paradoxal… Porque a imagem de um mundo perigoso nunca foi tão eficazmente transmitida como agora, mas o mundo nunca foi menos violento e mais seguro… Como já falamos um pouco antes e abordaremos em diante, os media aproveitam-se dos nossos instintos para nos chamar à atenção e esta é uma das melhores maneiras. Em 2016 realizaram-se 40 milhões de voos comerciais de passageiros que aterraram em segurança, 10 terminaram em acidentes fatais. Os que foram noticiados foram os 0,000025% que correram mal. Voos seguros não são notícias… (sempre que vou viajar a minha avó recorda-me desses voos que caíram. Provavelmente os únicos que tem conhecimento porque nunca andou de avião e faz com que fique sempre com o coração nas mãos mesmo que lhe diga o contrário…).
O instinto do medo é interessante… Por vezes ajuda a resolver grandes problemas! Mas outras vezes levam a decisões apressadas e erradas.
Na década de 40 foi descoberto um químico incrível que matava insetos. O DDT. Começaram a borrifar aquilo em todo o lado, era ótimo! O criador ganhou um prémio Nobel!
Na década de 50 começou-se a levantar receios a cerca do DDT, havia acumulação na cadeia alimentar de peixes, aves e outros animais. As pessoas aperceberam-se que não havia regulação suficiente e que tinha que haver mais controlo sobre as empresas produtoras e assim foi feito! Este e outros desastres fizeram com que hoje em dia haja uma forte regulação e normas de segurança a cumprir para prevenir que algo deste género aconteça. Incrível!!
Problema??
Teve o efeito secundário de ficarmos com um medo excessivo de contaminação. Chama-se quimiofobia. É quase automático (eu incluído) desconfiarmos de qualquer coisa que tenha químicos e é difícil ter um argumento baseado em factos…
Quem fala de quimiofobia fala de outras coisas como a vacinação infantil ou da energia nuclear. A partir do momento em que se cria um estigma à volta de algo é difícil reverte-lo…
Um exemplo que não é do livro, mas que me chamou à atenção por dizer respeito a este instinto aconteceu na ‘podcast’ chamada “Joe Rogan Experience” e o convidado era Edward Snowden. (Link para o vídeo)
Snowden é um analista de sistemas, ex-administrador de sistemas da CIA e ex-contratado da NSA que tornou públicos detalhes de vários programas que constituem o sistema de vigilância global da NSA americana. – Ele falava sobre como depois do 11 de setembro o governo americano tinha medo de um novo ataque terrorista e isso levou à aprovação de um programa de vigilância mundial. O governo e agências de inteligência podiam ter acesso a todos os dados disponíveis sobre qualquer cidadão sem autorização jurídica. Isto foi permitido de modo a não existirem entraves nas investigações e mais rapidamente se conseguir detetar potenciais perigos e eliminar ameaças existentes. Acontece que isso não só não ajudou no combate ao terrorismo, como também foi utilizado para outros propósitos…
Uma semana após o 11 de setembro, de acordo com a Gallup, 51% do público dos EUA tinha receio que a família fosse vítima de terrorismo. Em 2015, o número era o mesmo. As pessoas estão tão assustadas agora como no colapso das torres gémeas. Este receio pode levar novamente a decisões irracionais com base no medo, o que, sinceramente, era chato…
Conclusão:
Há uma diferença entre assustador e perigoso e por vezes damos atenção ao que é assustador – ou seja, ao medo – resultando num desperdício de energia na direção errada. Turva o que realmente é importante e provoca reações não ponderadas. Quando temos medo vemos um mundo de uma forma diferente… Só depois de deixar o pânico diminuir e entrarmos num estado calmo conseguimos calcular o risco que cada coisa apresenta e perceber até que ponto é perigoso para tomar a decisão correta. E isto aplica-se a tudo, desde ataques terroristas a relações interpessoais – se temos medo de perder alguém não vamos tomar a decisão certa no momento – por isso é algo que pode acontecer a todos nós e saber como lidar é importante!
O Instinto de Tamanho
Enquanto mestre em engenharia, admito que já tenho algum treino com este instinto porque temos que interpretar constantemente diferentes dados. No entanto, a nossa tendência enquanto seres humanos é a de entender as coisas desproporcionalmente ou de avaliar mal o tamanho das coisas.
O exemplo básico disto é olhar para um número solitário e ajuizar mal a sua importância – tipo os políticos sempre que estão a fazer campanha e falam de números (que não sabemos bem o que é e não têm contexto) para nos tentar provar que o país está bem, ou que o país está mal, dependendo do partido…
O uso de números que parecem enormes, juntamente com imagens constantes de indivíduos a sofrer, apresentados por organizações humanitárias ou os media, distorcem a visão do mundo das pessoas e subestimam sistematicamente o progresso feito.
Em 2016 morreram 4,2 milhões de bebés no mundo todo. Este número é estupidamente grande e a maior parte das mortes eram facilmente prevenidas caso existisse um melhor saneamento e educação. Aliás, segundo o autor, metade do aumento da sobrevivência infantil no mundo acontece por as mães saberem ler e escrever. Têm mais conhecimentos de higiene, sabem ler as instruções nos frascos dos medicamentos, etc.
Se nos apresentam este número gigante com imagens de bebés a sofrer e pessoas na pobreza extrema, é muito complicado não pensarmos que o mundo está cada vez pior… No entanto, a verdade é que este número é bastante pequeno quando comparado com dados de anos anteriores. Em 2015 morreram 4,4 milhões de bebés, em 2014 4,5 milhões e em 1950 14,4 milhões! Desde que começou a ser medido, o número nunca foi tão baixo como agora. Se fizermos a taxa de mortalidade infantil (dividir o número de mortes pelo número de nascimentos), em 1950 a mortalidade estava nos 15% e em 2016 era apenas 3%. Claro que devia ser zero! Mas colocando as coisas em perspetiva percebemos o progresso feito com o passar do tempo.
Outro exemplo de como os números fora do contexto passam a mensagem errada é o seguinte:
Como provavelmente têm ideia, a China é o país com maiores emissões de CO2 do mundo, tendo ultrapassado os Estados Unidos em 2005. Face ao preocupante aumento dos gases com efeitos de estufa no nosso planeta eles têm sido criticados, em conjunto com outros países como a Índia, por estarem a aumentar o consumo de CO2. No entanto, a China é o país com mais habitantes do mundo, é normal que eles consumam mais. Ao dividir a produção total de CO2 pelo número de pessoas do país, verifica-se que não está longe dos valores de outros países. Como comparação deixo aqui um gráfico da emissão de CO2 per capita da China, de Portugal e dos Estados Unidos.
Ou seja, até há alguns anos cada português produzia mais CO2 que cada chinês… – Verifica-se uma diminuição no CO2 que cada pessoa emite em Portugal nos últimos anos, que é o resultado da aposta do nosso país em fontes de energias renováveis e é algo bom. – No entanto, a China continua bem abaixo dos Estados Unidos (pelo menos continuava em 2014, que é o último ano disponível na plataforma.)
A melhor maneira de estar atento a este instinto é colocar as coisas em proporção. Para isso podemos:
- Comparar – Os números grandes parecem grandes, mas se forem solitários não significam muito. Podemos procurar sempre uma comparação para entender melhor o seu significado.
- Dividir – Uma quantidade não expõe as coisas da mesma maneira que uma proporção. No exemplo que acabei de dar, ao colocar o CO2 emitido por pessoa é mais fácil entender que a China tem um consumo equivalente ao dos outros países, mesmo que o consumo bruto seja tremendamente maior. As proporções são mais significativas, em especial quando se compara grupos de diferentes dimensões, como era o caso.
- 80/20 – A regra dos 80/20 é encontrar os 20% que têm 80% da informação relevante. Se temos uma lista comprida podemos procurar os itens maiores ou com mais impacto e tratar desses primeiro. Provavelmente são mais importantes que todos os outros itens juntos. Por exemplo:
De todas as fontes de energia existentes, em 2016, 87% da energia era produzida por 3 fontes. Irei dar outro exemplo desta regra no próximo instinto.
Conclusão:
Para analisar corretamente os números que nos dão, por mais impressionante que sejam, temos que os colocar em proporção e ver a sua importância comparando-o com algo relevante. Caso não tenhamos um valor com o qual comparar (como quando os políticos estão a debater na televisão e não sabemos bem o contexto), tentar manter em mente que aquele valor pode ter um significado diferente do que aparenta.
O Instinto de Generalização
Provavelmente todos sabemos o que este instinto é… Todas as pessoas automaticamente categorizam e generalizam constantemente. É inconsciente, não é por ter preconceitos. Categorizar é necessário para estruturarmos os nossos pensamentos. Se tivéssemos que ver cada parte das nossas vida individualmente entravamos em parafuso…
Tal como os outros instintos todos, este é útil, mas pode distorcer a nossa visão do mundo. Se agruparmos coisas erradamente, podemos assumir que todas as coisas dessa categoria são semelhantes, ou tirar conclusões acerca de uma categoria com base em poucos exemplos. Também aqui os meios de comunicação gostam de fomentar este instinto com generalizações rápidas e fáceis de comunicar: “vida rural”, “classe média”, “membro de um gangue”.
Quando sabemos que algo é uma generalização exagerada chamamos-lhe um estereótipo, tipo as mulheres falarem muito ou os ciganos serem mafiosos… Isto são estereótipos de raça e sexo. Do mesmo modo que estes existem, há muitos outros dos quais não nos apercebemos.
A questão da generalização não é só importante em termos da mentalidade das pessoas, acaba por afetar muitas outras áreas como a saúde, o comércio e a educação.
Atualmente, cerca de 88% das crianças até 1 ano são vacinadas contra diferentes tipos de doenças. No entanto, quando Hans perguntou isto a diversos funcionários de um dos maiores bancos do mundo, 85% da plateia respondeu que 20% das crianças estavam vacinadas, a opção mais díspar possível da realidade. (Os resultados divulgados deveriam encontrar-se aqui, mas a página está em atualização de momento.)
Eles não se aperceberem de evoluções como estas tem impacto no negócio em que se encontram:
As vacinas têm que ser mantidas em refrigeração desde que saem da fábrica até chegarem ao paciente. Isso implica uma rede de refrigeração durante todo o transporte da mercadoria e também no local de receção da mesma. É uma oportunidade de negócio que passa completamente ao lado de quem generaliza os países em desenvolvidos e em desenvolvimento e só investe nos primeiros, pois é “onde está a riqueza”.
Na verdade, – voltando agora ao exemplo dos 80/20 que eu disse que ia dar – a maioria da população humana não vive na América do Norte ou na Europa. Cerca de mil milhões de pessoas vivem na Europa, mais mil milhões na América e mil milhões em África. Os restantes 4 mil milhões vivem na Ásia. Em 2100, como já disse, estima-se que a população mundial seja de 11 mil milhões e a distribuição será a seguinte: mil milhões na Europa, mil milhões na América, 4 mil milhões em África e 5 mil milhões na Ásia. Mais de 80% da população vai viver em África e na Ásia, estes são os mercados do futuro. Em 2017, 60% dos consumidores do nível 4 vivem em países ocidentais – não vai ser assim por muito mais tempo.
O foco económico mundial vai mudar muito em breve para fora do ocidente e temos que estar prontos para isso.
Atualmente, a maior parte dos países de nível 2 e 3 estão em rápido crescimento. Há cada vez mais mulheres que têm a possibilidade de ir trabalhar devido a este crescimento. Assim, um mercado que está a explodir com novos clientes é o da higiene feminina.
Hans partilha que numa reunião interna com um dos maiores fabricantes de produtos de higiene do mundo eles eram ignorantes deste facto. Em vez de procurar novas consumidoras, concentram-se num mercado já saturado composto, tentando inovar com produtos cada vez mais específicos – pensos extrafinos para biquínis, ou invisíveis para vestir com licra, ou adaptados para diferentes desportos…
Cada um tem a sua estratégia, mas em vez de lutar pelas necessidades das 300 milhões de mulheres do nível 4, podiam concentrar esforços nas 2 mil milhões de mulheres nos países com rendimentos inferiores. Tudo o que procuram, provavelmente, é um produto a baixo custo que seja fiável… Provavelmente vão utilizá-lo a vida toda e recomendar às filhas e amigas.
A mesma lógica aplica-se a muitos outros produtos de consumo. Se continuarmos a generalizar as conceções erradas que temos da sociedade estamos a perder a oportunidade de entrar em mercados que vão ser os dominantes no futuro…
Então, como podemos “dominar” este instinto?
Provavelmente a melhor maneira é viajar e experienciar as diferentes culturas, entender que a ideia que temos pode não corresponder à realidade. Obviamente a maior parte das pessoas não tem o luxo de o poder viajar assim pelo mundo. Felizmente, existe a Internet!! Um dos melhores locais para se entender bem as diferenças entre os diferentes níveis de rendimento é a Dollar Street. Foi criado pela Anna (uma das coautoras do livro) e é um banco de dados com mais de 40 mil fotografias e descrições de situações de vida em mais de 50 países. Podem ir lá para ter uma ideia… Vão verificar que independentemente da cultura, religião ou local do mundo, as pessoas do mesmo nível de rendimento têm os factos básicos da vida muito semelhantes, o que foi interessante para mim.
Fora ter noção de como é o mundo, devemos questionar as nossas categorias para não colocarmos as coisas nas caixas erradas. Há 5 formas gerais de questionar as nossas categorias:
Procurar diferenças no interior e semelhanças entre grupos
Dentro de um país, ou dentro de qualquer grupo existem diferenças significativas entre os vários membros – África é considerado um continente “pobre”, no entanto, tem países em todos os níveis de desenvolvimento.
Do mesmo modo existem várias semelhanças entre diferentes grupos – pessoas no nível 2 na Nigéria e na China tem meios de cozinhar ou de se deslocar semelhantes. Provavelmente as instalações onde vivem também partilham bastantes semelhanças, etc
Desconfiar da “maioria”
Maioria é um termo muito abrangente… Só significa mais de metade. Pode ser 51% ou 99%. Idealmente perguntamos a percentagem.
Se eu disser que a maioria da população portuguesa tem seguro de saúde há uma diferença muito grande entre 99% das pessoas ter possibilidades de ter um ou apenas 60% da população conseguir… – A diferença é 3,9 milhões de portugueses, assumindo que somos 10 milhões.
Desconfiar dos exemplos excecionais
Só por existir um caso excecional não quer dizer o grupo inteiro seja assim!
A quimiofobia – medo de químicos – foi/é fomentada pela generalização de escândalos que existiram, mas que foram exceções. Tudo no mundo é feito de químicos, quer sejam naturais ou sintéticos e apenas alguns deles são prejudiciais, sem muitos outros não conseguíamos viver, como medicamentos, detergentes, plástico…
Um exercício engraçado é inverter a questão. Ou seja, perguntar se o oposto permitiria tirar a conclusão oposta. Neste caso – Se com um químico inseguro se generaliza que todos são inseguros, então com um químico seguro podemos generalizar que todos são seguros?
Assumir que não somos “normais” e os outros não são idiotas
Por vezes não entendemos o porquê de as coisas serem de certa maneira, até pode parecer contra intuitivo tendo em conta o nosso conhecimento. Ter a mentalidade que nos pode estar a escapar algo é útil aqui.
O exemplo que o autor nos dá é o da família Salhi na Tunísia. Eles têm poucas posses e a casa deles está incompleta. É possível ver os alicerces da casa e tijolos de fora. Isto é comum em muitas famílias dos níveis 2 e 3 e não é por serem preguiçosos ou desorganizados.
Frequentemente, estas famílias não têm acesso a um banco onde pôr as economias e não conseguem empréstimos. Para o dinheiro não desvalorizar por causa da inflação, compram logo materiais para a casa. No entanto, não tê espaço para armazenar esses materiais no interior da casa e se deixarem do lado de fora pode ser roubado… Então eles vão construindo a casa à medida que têm dinheiro para isso, daí o aspeto na figura 7.
Diferentes circunstancias necessitam diferentes soluções, estar atento e assumir que as nossas generalizações podem estar erradas é um passo na direção certa!
Desconfiar da generalização de um grupo para outro
Algo aplicar-se a um grupo não implica que se associe a um grupo diferente também.
Por exemplo, um ben-u-ron ajuda com as dores de cabeça de um adulto, no entanto, assumir que podemos dar o mesmo medicamente a uma criança com dores de cabeça é errado. Muito provavelmente vai ter efeitos que não são visíveis em adultos e não eram desejados. – A generalização aqui é julgar que por resolver os problemas de um grupo – adultos – também pode ser administrado no outro grupo – crianças.
Conclusão:
É impossível não generalizar… Porém, é bom reconhecer quando uma categoria está a ser usada numa explicação e relembrar-nos que esta pode ser enganadora… Temos que evitar é a generalização incorreta! E para tentar dominar este instinto, podemos tentar fazer o que falei acima.
- Procurar diferenças dentro de grupos;
- Procurar semelhanças entre grupos;
- Procurar diferenças entre grupos;
- Desconfiar da maioria;
- Desconfiar dos exemplos impressionantes;
- Presumir que as pessoas não são idiotas.
Estes 4 instintos foram alguns dos que mais me fizeram sentido intuitivamente e sobre os quais não tinha pensado… Espero ter despertado algum interesse em cada um deles e ter sido claro em tudo o que escrevi!
Para a semana vou colocar a terceira e última parte desta revisão com opinião do livro. Até lá, espero que tenham uma boa semana, estão à vontade para deixar um comentário e espero ver-vos na próxima quinta-feira =)
Ricardo ‘Banana’s Splits’ Ribeiro