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Factfullness P3 the final chapter
Olá pessoal! Bem vindos à terceira e última parte em que eu falo sobre este maravilhoso livro – e apercebo-me que não provavelmente não vou fazer outra vez revisões tão longas porque podem ficar maçadoras…
Hoje vou falar sobre os 4 últimos instintos e algumas conclusões a retirar sobre o livro todo!
O Instinto de Destino
É a ideia de que há características inatas que determinam o futuro dos povos, dos países, das religiões ou das culturas. De que as coisas são como são por razões imutáveis, inescapáveis: sempre foram assim e nunca hão de mudar…
Este instinto era claramente útil! Historicamente os seres humanos viviam em ambientes que não mudavam muito. Aprender como as coisas funcionam e depois presumir que continuariam a funcionar dessa forma – em vez de uma reavaliação constante – era possivelmente uma excelente estratégia de sobrevivência. Se todos acreditassem e lutassem para um destino comum, fortaleciam o grupo à volta de um propósito – que podia ser arranjar comida para todos na tribo, ou matar todos os que não fossem fieis à fé cristã. (Inquisição 🤔🤔)
Atualmente, este instinto tornou-se um pouco obsoleto. A sociedade evolve a um ritmo tal que as coisas não permanecem as mesmas desde o dia em que nascemos até ao dia em que respiramos pela última vez. Há transformações a acontecer à nossa volta em todo o lado. Não são super-rápidas como a difusão da Internet, dos smartphones ou dos meios de comunicação social, mas são bastante significativas com o passar do tempo.
Exemplo de conceções erradas que muitas pessoas têm fruto deste instinto são:
- África nunca vai igualar a Europa (talvez porque há 70 anos muitos dos países africanos eram colónias europeias…);
- O mundo islâmico é fundamentalmente diferente do mundo cristão;
- Certas nações ou culturas, ou continentes não vão mudar, por causa dos valores e tradições imutáveis;
Nenhum destes pontos tem base cientifica e normalmente são disfarçados de factos ou verdades absolutas. Podendo ser utilizados para instigar conflitos ou causar discriminação.
O autor fala sobre vários exemplos do Instinto de Destino em ação. Na minha opinião, o exemplo que melhor representa a desmistificação deste instinto é a evolução do papel da mulher na sociedade.
Se recuarmos a 1900 a maior parte das pessoas, homens ou mulheres, não concordariam com o que atualmente é aceite como a norma em grande parte da sociedade. O papel da mulher passava pela lida da casa e criar os filhos enquanto o papel do homem era trabalhar para sustentar a família. A sociedade era predominantemente machista e ambos os géneros este destino. Era algo que não tinha mudado desde nunca e o esperado era que continuasse igual, no entanto, não foi o que se verificou. Quer a motivação tenha sido a entrada de mais e mais mulheres para o mercado de trabalho para compensar a falta de mão de obra em tempos de guerra, quer tenha sido a melhoria progressiva das condições de vida, os movimentos feministas ganharam, passo a passo, direitos chave como o direito ao voto ou direitos iguais para ambos os membros de um casal – de modo que a dependência da esposa em relação ao marido fosse suprimida. Não era a religião, a cultura ou os valores do país que definiam o papel de cada sexo na sociedade e esta revolução comprovou-o.
Hoje em dia o direito ao aborto é apoiado por grande parte das pessoas na Europa, um forte apoio aos direitos das mulheres tornou-se parte da nossa cultura. Até à legalização do aborto em 2007 (em Portugal), tínhamos que sair do país ou fazê-lo ilegalmente. A religião cristã apoia a vida e naturalmente muitos cristãos eram contra – parecido com o que acontece agora com a eutanásia – no entanto, as mentalidades mudam. A maneira como as pessoas pensam evolui à medida que temos acesso a mais informação e mitos vão sendo desmistificados. Se esperamos que a mesma história se repita para sempre podemos surpreender-nos…
Em muitos países asiáticos, como a Coreia do Sul e o Japão, espera-se ainda que as esposas tomem conta dos pais do marido e dos filhos. Muitos homens orgulham-se desses “valores asiáticos“. Mas muitas mulheres acham aquela cultura insuportável e perdem o interesse em casar. Com o progresso social e económico, a cultura vai acabar por mudar, do mesmo modo que a nossa e a de muitos outros países mudaram. Não são imutáveis.
Então como podemos dominar o Instinto de destino?
Uma mudança lenta não é inexistente:
- Mesmo que pareça pequeno e lento, com o passar do tempo sentimos a diferença. 1% ou 2% de crescimento ao ano parece lento, mas se eu tiver 1000 euros e crescer 2% por ano, ao fim de um ano vou ter 1020 euros. No ano seguinte já vou somar 2% de 1020 euros, que é 1020 + 1020 * 0,02 = 1040,4 € e tem um efeito acumulativo com o passar do tempo. Ao fim de 35 anos duplico o meu dinheiro. – para o pessoal que for levar isto literalmente e falar da inflação, isto é um exemplo para demonstrar que crescimentos incrementais acontecem e ao fim de um certo tempo conseguimos ver a diferença.
Temos que atualizar o nosso conhecimento:
- Era bom se aprendêssemos uma coisa e ela não tivesse data de validade, estivesse sempre fresca e relevante. E isso acontece com certas ciências, como a matemática (2 + 2 = 4 – 1 = 3), mas na generalidade progresso envolve mudança e estamos a progredir ao ritmo mais rápido de sempre. Quer sejam novos tratamentos em medicina, quer sejam mudanças socioeconómicas relevantes, o mundo não pára. Hans sentiu isto quando percebeu que as próprias perguntas factuais da Gapminder estavam desatualizadas – originalmente eram de 1998 e foram atualizadas 13 anos depois.
Falar com os nossos pais, avós, filhos…
- Eu falo por mim, consigo identificar diferenças claras entre a minha mentalidade e maneira de ver o mundo em relação à dos meus pais e avós. E de certeza que o contrário também é verdade. Isto é um forte indicador de como as coisas mudam de geração para geração e não se mantêm constantes no tempo.
Recolher exemplos de mudança de cultura:
- É fácil ouvir alguém a dizer “faz parte da nossa cultura” – Touradas – ou “é a cultura deles” – inserir genérico comentário racista sobre pretos – transmitindo a impressão que sempre foi assim e sempre será. Nessa altura podemos pensar em contra exemplos, como a mudança de opinião em relação ao aborto, ou a aceitação de casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
Conclusão:
Muitas coisas (incluindo povos, religiões e culturas) parecem ser constantes apenas porque a mudança está a ocorrer lentamente, recordemos que mesmo lenta é mesmo assim mudança. Vamos tentar:
- Acompanhar as melhorias graduais – pequenas mudanças todos os anos dão uma enorme ao fim de décadas;
- Atualizar os nossos conhecimentos – há conhecimentos que se desatualizam. A tecnologia, os países, as sociedades, as culturas e as religiões estão a mudar constantemente;
- Falar com o nosso avô – Comparar os nossos valores com os de outras gerações ajudam a perceber as diferenças;
- Recolher exemplos de mudanças culturais – colocar em causa que a cultura de hoje deve ter sido a de ontem e será a de amanhã.
O Instinto de Perspetiva Única
Ideias simples são muito atraentes. É fácil passar de uma ideia simples para o sentimento de que essa ideia explica maravilhosamente, ou é a maravilhosa solução para muitas outras coisas. Torna tudo muito mais simples… O problema é que percebemos o mundo de uma maneira errada.
Por exemplo, 2 ideologias que levam a respostas opostas:
a ideia do mercado livre pode conduzir à ideia simplista de que todos os problemas têm uma única causa – a interferência do governo – a que nos devemos opor sempre; e a solução é liberalizar as forças do mercado reduzindo impostos e removendo as regulações, o que devemos apoiar sempre;
a ideia da igualdade pode conduzir à ideia simplista de que todos os problemas são causados pela desigualdade, à qual nos devemos opor sempre; e a solução é a redistribuição dos recursos, que devemos apoiar sempre.
Poupa tempo pensar desta forma… Temos uma opinião e respostas para tudo sem ter que estudar o problema do início e podemos continuar a usar o cérebro para outras tarefas. – Para compreender o mundo não é tão útil… Estar sempre a favor ou contra qualquer ideia em particular cega-nos para a informação que não se encaixe na nossa perspetiva.
Em alternativa, podemos testar constantemente as nossas ideias favoritas em busca de pontos fracos. Ser humildes em relação à extensão da nossa competência e curiosos em relação à informação que não se encaixe. Para isto ajuda falar com pessoas que não concordam connosco e que contra-argumentem, chocar com a visão da realidade da outra pessoa ajuda-nos a perceber os nossos erros…
Ter esta atitude implica que não vamos ter muitas opiniões formadas. Mas é preferível ter poucas opiniões corretas, ou muitas erradas?
Este instinto é particularmente vincado em duas razões, na ideologia política e em especialista e ativistas.
(para não tornar isto uma seca, vou falar só de um deles ^^)
Os Ideólogos:
Cuba: O país mais saudável dos pobres
Porem podem ser desenhadas 2 linhas imaginarias e ser interpretado como o país mais pobre dos países saudáveis…
O sistema comunista em Cuba é um exemplo do perigo de ficar preso a uma perspetiva única: a ideia aparentemente sensata, mas bizarra de que um governo central consegue resolver todos os problemas do seu povo. – Tinham começado a permitir algum investimento privado entre 2013 e 2017, mas isso mudou novamente quando Trump foi eleito presidente.
Olhando para o país, para as suas ineficiências, pobreza e ausência de liberdade percebe-se porque é que muitos defendem que não deve ser permitido aos governos planearem as sociedades…
A Venezuela é outro caso em que isto acontece e para já, não está a resultar muito bem…
Do outro lado tem os Estados Unidos. Gastam mais do dobro per capita em cuidados de saúde que outros países do Nível 4. No entanto, têm 39 países com uma esperança de vida superior…
Porque não têm os mesmos cuidados de saúde pelo mesmo custo? Bem, a ausência de assistência de saúde pública básica é a principal causa. Os pacientes ricos e com seguro visitam o médico mais que o que precisam e fazem subir os custos per capita, por outro lado, os pacientes pobres não têm dinheiro para tratamentos simples e morrem mais cedo que o que deviam – informação que não está no livro, durante os últimos 3/4 anos (desde que o Trump está no poder) a esperança média de vida tem vindo a baixar e o suicídio passou a ser a segunda maior causa de morte do país (não estou a dizer que há uma correlação, mas aconteceu xD)
O sistema de cuidados de saúde dos EUA sofre também do enquadramento mental da perspetiva única: a ideia aparentemente sensata de que o mercado consegue resolver todos os problemas da nação. Percebe-se porque é que as pessoas olham para o país e as desigualdades existentes e julguem que nunca deveria ser permitido aos mercados privados e à competição nada que se aproximasse da oferta de serviços públicos. – Com a recente pandemia aperceber-nos que em situações extremas não podemos esperar que o mercado se regule a si próprio. Exemplo: a procura de máscaras aumentou exponencialmente, a produção diminuiu e assim o preço subiu absurdamente…
Nem a democracia é a única solução.
A democracia liberal é na minha opinião – e na do autor – a melhor forma de governar um país. Quando nos confrontamos com alguém com uma ideologia diferente, é normal sentimo-nos tentados a defender que a democracia leva – ou é uma condição obrigatória – a outras coisas boas como a paz, o progresso social, as melhorias na saúde e o crescimento económico. Há um pequeno problema com este pensamento… Os indícios não sustentam esta posição.
A maioria dos países que realizam grandes progressos económicos e sociais não são democracias. A Coreia do Sul deslocou-se do Nível 1 para o Nível 3 mais depressa do que qualquer outro país fizera antes – sem encontrar petróleo -, sempre com uma ditadura militar. Dos 10 países com o crescimento económico mais rápido entre 2012 e 2016, 9 deles eram fracos do ponto de vista democrático. Quem defender que a democracia é uma necessidade para o crescimento económico e para as melhorias na saúde arrisca-se a ser contradito pela realidade… – Basta ver o caso da China com o covid-19, eles trataram da situação com uma eficiência que seria impossível num país democrático. Poderem ordenar os cidadãos a ficar de quarentena imediatamente e ter as ferramentas para vigiar cada um dos cidadãos era algo que não seria possível, devido à violação da liberdade individual, entre outras coisas.
O melhor é defender a democracia como um objetivo em si e não como um meio superior para outros objetivos que não gostemos.
Conclusão:
Reconhecer uma única perspetiva pode limitar a imaginação. Temos que recordar que é melhor olhar para um problema de vários ângulos para obter uma compreensão mais exata e descobrir soluções práticas. Para controlar este instinto podemos:
Testar as nossas ideias – encontrar pessoas que tenham uma opinião diferente e entender os pontos fracos das nossas ideias;
Especialização limitada- Não temos que ter competências em todas as áreas. Ser humilde e honestos acerca do que não sabemos não é vergonha nenhuma. Do mesmo modo, devemos estar atentos aos limites dos outros;
Martelos e pregos – Se somos bons com uma ferramenta, não temos que a usar sempre… Ao analisar um problema em profundidade podemos acabar por exagerar a importância do problema ou da solução. Não há ferramentas que sejam soluções para tudo. Procurar pessoas com soluções diferentes pode ajudar a estar abertos as ideias de outras áreas;
Números, mas não apenas números – O mundo não pode ser compreendido sem números, e não pode ser compreendido só com números;
Desconfiar de ideias simples e de soluções simples – A história está cheia de visionários que usaram visões utópicas simples para justificar ações terríveis. Para ver a imagem na totalidade temos que aceitar a complexidade e analisar caso a caso…
O Instinto de Culpa
Este instinto leva-nos a exagerar a importância dos indivíduos ou de um grupo particular. Acaba por desorientar a nossa capacidade para desenvolver uma compreensão verdadeira e baseada em factos do mundo: rouba-nos o foco, enquanto ficamos obcecados com alguém para culpar e, depois, bloqueia a nossa aprendizagem porque, a partir do momento em que decidimos o culpado, deixamos de procurar outra explicação. (A tal ideia de que há uma solução simples para as coisas)
Este instinto funciona das 2 maneiras, quando algo corre bem, também estamos prontos a atribuir o crédito a um indivíduo ou a uma causa simples, quando, provavelmente, é mais complexo do que isso…
Hans fala das pessoas a que normalmente mais apontamos o dedo:
-
Empresários malvados
-
Jornalistas mentirosos
-
Estrangeiros.
Empresários:
Aquela empresa devia fazer isto da maneira x ou da maneira y, são uns capitalistas malvados! E ya, concordo, se calhar até são! xD
Porém, em muitos dos casos, a culpa é de todos e de ninguém… Entender o sistema por trás da empresa ajuda, porque vamos culpar o dirigente por não gerir corretamente a empresa… Mas o dirigente faz o que o conselho de diretores quer, se não é despedido. Vamos então culpar o conselho de diretores! Mas estes planeiam os objetivos de modo a agradar os acionistas, se não deixam de ter o investimento. Quem são os acionistas? Nós, bolsas de investimento, fundos de pensões, etc. Se o sistema é capitalista, é normal que muitas das empresas sigam essa via. – Aqui poderiam dizer: então a culpa é do sistema! No entanto, devem existir razões para se usar este sistema e não outros, e como vimos no capítulo anterior, não há nenhum sistema ou ideia simples que funcione para tudo e normalmente as coisas são mais complexas que o que parecem.
Jornalistas/Políticos/Ativistas:
Já nos perguntamos: porque é que os meios de comunicação apresentam uma imagem distorcida do mundo? Será que realmente querem passar uma imagem distorcida? Existir outra explicação?
(Obviamente estou a excluir aqui os jornalistas que deliberadamente apresentam noticias fabricadas. Isso não é jornalismo…)
Podemos ter só notícias verdadeiras e ficar com uma imagem errada do mundo… Isso acontece porque os jornalistas têm as mesmas megaconceções erradas que nós, por isso fazem relatos verdadeiros com os seus instintos dramáticos… Ao fazerem um teste sobre a factualidade do mundo, os jornalistas também erraram a maior parte das perguntas, então era estranho se não tivessem essa visão.
Por que razão os jornalistas têm uma visão do mundo distorcida? – Porque são seres humanos e têm instintos dramáticos…
O que é que os encoraja a produzir noticias preconceituosas e exageradamente dramáticas? – Tem que competir pela atenção dos consumidores ou perdem o emprego…
Pensando assim, fica um pouco irrealista e injusto pedir para os meios de comunicação mudem para fornecer um melhor reflexo da realidade. Não devemos esperar que eles forneçam uma perspetiva do mundo baseada em factos, da mesma maneira que não achamos sensato pedir indicações a random turistas em vez de usar o GPS.
Refugiados:
Em 2015, 4000 refugiados afogaram-se no mar mediterrâneo quando tentavam fugir para a Europa em botes insufláveis. As imagens foram horríveis…
Como pode acontecer uma coisa destas? De quem é a culpa?
TEM que ser dos gananciosos que enganam as famílias desesperadas e cobravam 1000 euros por pessoa por um lugar num bote insuflável!!! (e pronto, paramos para pensar por aqui…)
Ou não. Porque diabos é que pessoas com aquelas posses não podem ir de avião ou num cacilheiro para a Europa? Os estados europeus assinaram todos a Convenção de Genebra, por isso os refugiados da Síria têm direito a asilo… Um voo da Turquia para Londres são 50/100 euros… Será que era porque não conseguiam chegar ao aeroporto? Pouco provável…
O que acontece é que no balcão de embarque os refugiados eram impedidos de entrar no avião. Na Diretiva de 2001 do Conselho da União Europeia para combater a imigração ilegal está estipulado que companhias aéreas ou empresas navais que transportem uma pessoa sem os documentos adequados para a Europa devem pagar os encargos de devolver o cidadão ao país de origem. – A diretiva também diz que isto não se aplica a refugiados! Mas esta declaração é vã… Como é que alguém no balcão de embarque de uma companhia aérea vai decidir se a pessoa sem documentos está ilegal ou é refugiado? Não consegue. Conclusão, as empresas de transporte não correm riscos e se as pessoas não tiverem documentação não entram. No entanto, as embaixadas europeias na Turquia e na Líbia não têm os recursos necessários para processar as candidaturas todas que lhes chegavam.
Além disso, a União Europeia confisca todos os barcos que chegam à costa europeia, pelo que os passadores não teriam dinheiro para enviar as pessoas em barcos seguros, porque ficariam sem eles. Assim, sobra a opção dos barcos de plástico…
A Europa honra a Convenção de Genebra e quando estão em solo europeu dá asilo a quem o necessite, mas as políticas de imigração conduziram à morte de milhares de pessoas… Temos o instinto de culpar alguém, mas é raro olhar ao espelho. Às vezes é uma surpresa. – Não estou a afirmar que a UE é culpada, estou a mostrar que não é tão simples como podia parecer inicialmente…
A mesma coisa quando é para dar crédito a alguém. O mais provável é que exista um “ator invisível” por detrás dos êxitos humanos. Dois dos heróis mais ignorados do desenvolvimento global são as instituições e a tecnologia.
As instituições:
Apenas em alguns países com dirigentes e conflitos excecionalmente destruidores é que o desenvolvimento social foi travado. Na grande maioria, mesmo com chefes incapazes tem havido progresso.
Isso obriga-nos a pensar – serão os dirigentes assim tão importantes? – A resposta é que provavelmente não…
É o povo, o grande número, que constrói a sociedade. Quando ligamos a água para tomar um duche e sai agua quente podemos agradecer aos canalizadores, quando vamos ao hospital podemos agradecer aos médicos e aos enfermeiros pelo serviço prestado, quando de carro podemos agradecer aos engenheiros, quer por ele andar, quer pelas estradas em que eles andam… São estas pessoas que constroem verdadeiramente uma sociedade e não uma só pessoa. – Claro que presidentes e primeiros-ministros têm imenso poder e podem começar uma guerra ou assim, mas assumindo que tem um cérebro, a sociedade progride quase independentemente de quem seja a pessoa a governar.
Tecnologia:
Conclusão:
Quer seja porque os taxistas estão a perder clientes, porque o nosso parceiro acabou uma relação connosco, porque estrangeiros estão a invadir o nosso país e a aproveitar-se ou, porque alguém colocou uma caixa no sítio errado e batemos lá com o mindinho, a verdade é que devemos tentar resistir culpar o individuo ou o grupo, – na maior parte das situações – porque há sempre algo por detrás que só compreendermos se pensarmos para lá de “quem é o culpado?”
Então, vamos tentar:
Procurar causas e não vilões – aceitar que coisas más podem acontecer sem ninguém ter essa intenção e usar a nossa energia para compreender as múltiplas causas interrelacionadas que criam a situação
- Procurar sistemas e não heróis – Será que o resultado poderia ter surgido independentemente do individuo que se senta no poder? Devemos dar crédito ao sistema 😃
O INSTINTO DE URGÊNCIA
Provavelmente já todos vimos um anúncio deste género… E também é provável que já tenhamos estado numa posição em que o instinto de urgência entrava em ação e não conseguímos tomar a decisão certa.
Este instinto deve ter sido super útil! Se pensamos que está um leão nas redondezas provavelmente não é a melhor ideia fazer uma análise profunda da situação xD Mesmo atualmente, se um carro vem na nossa direção quanto mais depressa agirmos melhor!
No entanto, fora situações excecionais, raramente é assim tão urgente, nem tem que ser uma escolha entre 2 opções.
É interessante que não temos um instinto semelhante para coisas que acontecem no futuro. De facto, perante os riscos futuros, conseguimos ser bastante perigosos. – Por isso é que se estuda tudo nos dias antes do exame, ou as pessoas não poupam o suficiente para a reforma… Esta atitude em relação ao futuro é um problema para os ativistas que trabalham em escalas temporais grandes – aquecimento global –
Como podem despertar-nos?
Incitar à ação?
Muito frequentemente é a tentar convencer que um risco incerto no futuro é um risco imediato e que temos a oportunidade histórica para resolver o problema. “Agora ou nunca!”.
Este método leva-nos a atuar, mas pode levar a ‘stress’ desnecessário e más decisões. Pior, pode roubar a credibilidade e confiança em relação à causa… é como a história dos rapazes a gritar que vem lá o lobo. Todos sabemos como acaba a história: com um campo cheio de ovelhas mortas…
Al Gore é um bom exemplo de um ativista que apela à ação através do nosso sentido de urgência. Ele começou em 1989 a tentar mobilizar as pessoas para a sua causa e provavelmente apercebeu-se que era a estratégia com melhores resultados imediatos. Em 2009 Hans encontrou-se com Al Gore nos bastidores da TED. O antigo vice-presidente dos Estados Unidos pediu ajuda ao autor para apresentar os dados com os gráficos de bolhas que Hans usava nas suas apresentações. Mas apenas queria mostrar um futuro pior cenário possível com o aumento continuado das emissões de CO2.
Hans acabou por recusar a colaboração, pois já tinha experiência de erros anteriores em que o Instinto de Urgência tinha resultado mal na vida dele – querem saber, leiam o livro 😉 – e exageros acabam por corroer a credibilidade de uma instituição. Ou mostrava vários cenários, ou não mostrava nenhum. Depois de descoberto, o exagero faz com que as pessoas percam o interesse…
Do mesmo modo, muitos ativistas – com o instinto da perspetiva única – julgam que o problema que combatem é o problema global mais importante e tranformam-no na causa de todos os problemas globais para aumentar o sentimento de urgência em relação ao mesmo. Muitos acabam por se enganar a si próprios… Os ativistas defendem as suas ideias com estratégias inteligentes para que as pessoas se empenhem, mas depois esquecem-se de que estão a exagerar e ficam ‘stressados’ e incapazes de se focar em soluções realistas. Para efetivamente resolver o problema tem que se manter 2 ideias na cabeça:
Preocupar com o problema;
Não nos tornarmos vitimas da própria mensagem alarmista.
Entusiasmar os outros, mas, ao mesmo tempo manter a cabeça fria para poderem tomar boas decisões e ações sensatas, não pondo a credibilidade em risco.
Na opinião do autor, estes são os 5 riscos globais com que devemos preocupar-nos – 4 deles estão a acontecer agora, com a corrente pandemia, que levou ao colapso financeiro.
Pandemia Global:
Bem, faz sentido ele preocupar-se com este. O medo dele era exatamente o que se está a passar. Um vírus que se transmita via aérea é a ameaça mais perigosa para a saúde global. Uma pessoa poder entrar numa carruagem de metro e contaminar todos os passageiros sem os tocar é assustador. Hans sabe que o mundo está mais preparado do que alguma vez esteve para lidar com um vírus deste género – e é por isso que o número de mortos é cerca de 1% dos infetados e não os 5-6% inicialmente projetados (não encontrei a referência onde li isto dos 6% por isso levar com uma pitada de sal…). O medo principal é algo que ainda não aconteceu até agora. Caso o vírus se espalhe até países de Nível 2 e principalmente Nível 1 onde os sistemas de saúde não estão tão preparados, pode correr muito mal e é preciso que a Organização Mundial da Saúde esteja atenta. Vamos ver o que vai acontecer no futuro, com países como a Índia que estão a lutar contra o vírus atualmente e esperar que a infeção não se espalhe por mais países dos Níveis 1 e 2.
Colapso financeiro
Num mundo globalizado em que existem dependências entre os vários países nas cadeias de fornecedores. É algo eficiente, mas, ao mesmo tempo, pode arruinar economias de países inteiros e lançar as pessoas para o desemprego.
Já aconteceu um crash em 2008, que não foi previsto pelos especialistas e estamos a assistir agora a outra recessão, causada por fatores externos que também pode ter impactos profundos na nossa economia.
Terceira Guerra Mundial
Tem “piada”, porque também quase acontecia, com o Trump a bombardear o Irão xD. Quase que em 2020 os 5 receios do autor se realizavam…
Ele defende que estabelecer pontes entre culturas quer seja por viajar, jogos olímpicos, comercio internacional, programas de intercâmbio ou qualquer outra maneira de interação entre os povos. Temos que conhecer-nos para perder as generalizações que podemos ter em relação a outros povos e conseguirmos fortalecer as nossas redes e manter a paz mundial. Sem paz mundial nenhum dos objetivos de sustentabilidade será alcançado. O ocidente vai ter que engolir o orgulho porque vai deixar de ser o foco do comércio e poder económico e isso será um desafio diplomático, mas vamos ver como corre!
Alterações climáticas
Não é preciso olhar para o pior cenário possível para perceber que as alterações climáticas são uma enorme ameaça. Os recursos do planeta, como a atmosfera, só poderão ser governados por uma autoridade globalmente respeitada, num ambiente pacifico que obedeça a padrões globais. Já foi feito antes! Com os aerossóis que destruíam a camada do ozono, com o chumbo na gasolina… Exige uma comunidade internacional forte e a funcionar bem e exige solidariedade global em relação às diferentes necessidades de pessoas nos vários Níveis de rendimento.
Pobreza extrema
Esta não é um risco, é uma batalha constante que está a ser travada há mais de 200 anos e que temos que ganhar o mais rápido possível. Acabar com a pobreza extrema ajuda com outros problemas por arrasto, porque é também lá que surgem os surtos de ébola por não existirem serviços de saúde que os combatam inicialmente; é onde começam as guerras civis, porque os jovens desesperados por comida e trabalho e sem nada a perder tendem a estar mais dispostos a juntarem-se a movimentos de guerrilhas… é um círculo vicioso. A pobreza conduz à guerra civil e a guerra civil conduz à pobreza.
Os terroristas aproveitam escondem-se nas poucas áreas restantes da pobreza extrema. Quando os rinocerontes ficam cercados no meio da guerra civil, é muito mais difícil salvá-los.
Há cerca de 800 milhões de pessoas nesta posição e sabemos qual é a solução. Paz, escolarização, cuidados de saúde básicos universais, eletricidade, água potável, sanitas, contracetivos e microcrédito para arrancar as forças de mercado. Não é preciso uma inovação incrível, é só dar os passos finais com aquilo que resultou em todos os outros sítios.
Estes riscos são “urgentes”, mas têm que ser discutidos com a cabeça fria e com dados robustos e independentes!
Controlar este risco não significa que não nos preocupamos, temos é que nos preocupar com as coisas certas. Não é para desviar o olhar das notícias nem ignorar as chamadas dos ativistas à ação. Mas é ignorar o ruído e prestar atenção aos grandes riscos globais. Não é não ter medo, é manter a cabeça fria e apoiar colaborações globais de que precisamos para controlar os riscos. Controlar o instinto de urgência…
Ficar menos ‘stressados’ com problemas imaginários do mundo excessivamente dramático e mais alertados para os problemas reais e a forma de os resolver.
Conclusão:
Temos que reconhecer quando uma decisão parece urgente e recordar que raramente é o caso. Para controlar este instinto, vamos:
Respirar fundo – para não fazer a análise errada. Podemos pedir mais tempo e informação, raramente é agora ou nunca e raramente é uma coisa, ou outra.
Insistir nos dados – Se algo for urgente e importante tem que ser medido… Mas o que importa são dados relevantes e exatos! Se forem relevantes e inexatos ou exatos e irrelevantes não nos dizem nada sobre o problema…
Desconfiar dos videntes – As previsões acerca do futuro são incertas. Se disserem o contrário, é desconfiar deles xD Temos que ver não só o melhor ou o pior caso, mas um conjunto relevante de casos. E também é preciso perceber se aquele modelo de análise funcionou ou não no passado para ser confiado…
Suspeitar da ação drástica – Quais podem ser os efeitos secundários? Como foi testada a ideia? As melhorias passo a passo, e a avaliação do seu impacto, são menos dramáticas, mas, em geral, mais eficazes.
A Factualidade na Prática:
Educação:
Porque não ensinar a compreensão básica atualizada do nosso mundo em mudança nas escolas públicas e privadas? No fundo, é ensinar pensamento critico às crianças…
Acima de tudo, ensinar humildade e curiosidade.
Humilde significa ter consciência da dificuldade que os nossos instintos poderão constituir para percebermos convenientemente os factos, sermos realistas em relação ao nosso conhecimento, estarmos preparados para mudar de opinião quando descobrimos novos factos. Não temos que estar pressionados para termos uma visão acerca de tudo e não temos que estar sempre pontos a defender opiniões.
Ser curioso é estar aberto a nova informação e procura-la ativamente, aceitar os factos que não se encaixam na nossa visão do mundo e tentar compreender as suas implicações. “como é que posso aprender com este erro? Como posso estar errado sobre aquele facto?
Negócios:
Há umas décadas talvez fosse menos importante ter uma compreensão global decente. Hoje, trabalhamos com consumidores, produtores, fornecedores de serviços, colegas ou clientes de todo o planeta. Nas vendas e no marketing – principalmente de grandes negócios – é importante entender que o mercado mundial do futuro irá crescer sobretudo na Ásia e na África.
Para tomar estas decisões de investimento, temos que nos livrar de todas as perspetivas ingénuas sobre África, moldadas pelo passado colonial e em parte conservadas até hoje e compreender que no Gana, no Quénia e na Nigéria é onde se encontram as melhores oportunidades de investimento.
Jornalistas, Ativistas, Políticos:
A nossa organização:
Para a nossa vida:
Sinceramente acho útil tudo o que foi falado para a compreensão geral do que nos rodeia. Entender o mundo de um ponto de vista socioeconómico é complicado. Do mesmo modo que é complicado entender o mundo de um ponto de vista científico. Entendi que muitos dos instintos que o autor fala ao longo do livro eu pratico na minha vida sem me aperceber e que quando paro para pensar não faz sentido fazê-lo. Hans sugere testar o conhecimento factual dos outros. Falar com os nossos amigos ou random pessoas sobre isto, fazer algumas perguntas sobre o mundo e conversar sobre o assunto. Sem dúvida é algo que eu vou fazer cada vez mais, não só para passar as mensagens que fui aprendendo, mas também para ver onde estão os pontos fracos do meu pensamento e entender o ponto de vista das pessoas com quem falo!
Espero que no futuro todas as pessoas acabem por ter uma visão baseada em factos, por duas razões:
A visão do mundo baseada em factos é mais útil para nos orientarmos na vida, tal como um GPS exato é mais útil para encontrar o caminho por uma cidade.
Uma visão do mundo baseada em factos é mais confortável. Cria menos ‘stresse’ e desesperança do que a visão do mundo dramática, por não ser tão negativa e aterradora.
Quando possuímos uma visão do mundo baseada em factos vemos que não é tão mau como parece – e conseguimos ver o que temos que fazer para continuarmos a torna-lo melhor ❤️
Pá, se leste até aqui deves estar mesmo sem nada para fazer, mas agradeço imenso que tenhas tirado o tempo e espero que te tenha ajudado de alguma maneira!
Se quiserem, em baixo, digam-me qual parte deste texto gigante tiravam, se tivessem que tirar algo. Isso ajuda-me a perceber futuramente em que me devo focar.
Grande Abraço ,
Ricardo Ribeiro