Boas Leitores afincados! Bem vindos a mais uma publicação 🙂
Como reparam já não publicava há bastante tempo! Pois bem, há um mês e meio eu vi um documentário intitulado “The Social Dilemma” – O Dilema das Redes Sociais – e decidi que o tema merecia uma publicação!
Então passei as últimas 6 semanas a investigar o tema, os argumentos utilizados e tudo o resto. Ao todo eu passei mais ou menos 70 horas a ler artigos, ouvir podcasts, ver vídeos, etc, para ter a opinião mais completa possível e escrever um texto completo e ponderado. Espero que gostem!!
É um “Docudrama” – documentário dramatizado – produzido nos Estados Unidos e disponível na Netflix que expõe o papel das redes sociais na crescente polarização da sociedade e crescentes problemas de saúde mental especialmente nas gerações mais jovens como a gen z.
Eles intercalam entrevistas a diferentes personalidades – ex-colaboradores da Google e do Facebook, professores universitários, investigadores, escritores, … – com a história fictícia de uma família comum que vive os problemas e dificuldades expostos pelos entrevistados. (Recomendo que vejam o documentário para entender melhor a publicação também.)
Ver o documentário foi uma experiência interessante e perturbadora. Foi interessante entender alguns dos mecanismos por de trás das várias plataformas faladas – Youtube, Facebook, Twitter e assim – e foi perturbador a mensagem que eles me passaram, quase como se as redes sociais fossem o início do fim da nossa sociedade.
O conteúdo do filme é convincente, simples e assustador. Fez-me imediatamente pensar o que podia ser feito para impedir este problema e decidi escrever uma publicação para o meu blog sobre o mesmo!
E quando comecei a investigar, encontrei o meu primeiro problema com o documentário… As visões expostas são unilaterais, não há diversidade de opinião e as alternativas oferecidas são vagas e pouco realísticas. – Algo que só me apercebi depois ler os artigos e falar com pessoas que entendem mais que eu sobre as redes sociais xD
Tive alguma dificuldade em encontrar vídeos com pontos de vista que refutassem os expostos na longa-metragem e os que encontrei tinham consideravelmente menos visualizações (o algoritmo não os sugeria?), mas ao encontrar, todos eles levantavam questões válidas não exploradas n’O Dilema das Redes Sociais.
Vou dividir o texto pelos principais temas que o documentário apresenta e aprofundar cada um.
“Se não pagas pelo produto, tu és o produto”. Quanto maior a nossa interação com as redes sociais, mais publicidades vemos, mais lucro para as empresas que gerem a plataforma! Existe um forte incentivo monetário para atrair o máximo da nossa atenção.
“Como se pode utilizar o que se sabe sobre a psicologia da persuasão e adaptar isso ao design das várias apps?”
De 2011 até ao presente, o número de raparigas pré-adolescentes que se suicidaram aumentou 151%. Isto coincide com o aumento exponencial da utilização das redes sociais.
Os algoritmos utilizados priorizam aquilo com que mais interagimos. Isto leva à formação de bolhas de ideias e informações que reforçam constantemente as nossas convicções sem nos expor a argumentos contrários.
Como podemos lutar contra os malefícios destas plataformas agora que estamos cientes que existem?
As redes sociais mais comuns – como o Facebook, Instagram, Twitter, YouTube – têm todas um modelo de negócio similar. Oferecem os serviços na sua plataforma gratuitamente aos utilizadores, mas como qualquer negócio elas têm que fazer dinheiro de algum modo… Empresas publicitárias ou qualquer indivíduo pode pagar à plataforma (vamos utilizar o Facebook como exemplo) para colocar a sua publicidade online.
Os nossos dados são analisados e agrupados de modo a ser possível focar as diferentes publicidades aos grupos que terão maior interesse pelas mesmas. A pessoa que estiver disposta a pagar mais tem a sua publicidade mostrada primeiro, como se fosse um leilão.
Ou seja, nas palavras de Tristan Harris – “Se não pagas pelo produto – tu és o produto“. Todas as redes sociais mencionadas são recompensadas por desenvolver estratégias para nos chamar à atenção e manter o máximo de tempo possível na plataforma. Para isso, os algoritmos existentes compilam toda a informação possível sobre quanto tempo passamos a ver fotos, vídeos, quais são os nossos gostos, o nosso tipo de personalidade, tudo para fornecer conteúdo que nos faça interagir o máximo possível.
Como diz Yuhal Noah Harari – Vai chegar (ou já chegou) a altura em que a tecnologia nos conhece melhor que nós próprios. — Isto é representado no filme pelo rapaz que tem um “avatar” dele criado pela sua interação com as redes sociais e para o final ele é quase completamente controlado pelos 3 homens brancos caucasianos que representam o vilão (que neste caso seria o algoritmo).
N’O Dilema das Redes Sociais, a utilização dos nossos dados para anúncios direcionados é pintado como algo mau – é o capitalismo de vigilância -, que incentiva as redes sociais a usar todas as estratégias possíveis para nos “colar” ao ecrã como se fossemos zombies. E efetivamente, as empresas que controlam as redes sociais utilizam estratégias deste género para aumentar a nossa interação como vamos ver no próximo ponto. No entanto, sinto que eles estão a passar uma mensagem completamente sem contexto, pintam uma mensagem de que isto nunca foi feito e de que todas as consequências que pode ter são negativas, o que não só é errado como também é sensacionalista.
Shoshana Zuboff ao passar a sua mensagem do capitalismo de vigilância diz o seguinte: “Têm uma garantia que se colocam uma publicidade ela vai ter sucesso” (claro que foi traduzida xD)
Isto não pode estar mais longe da realidade. Por melhores que sejam os algoritmos do Facebook ou outras plataformas, é impossível ter uma garantia de sucesso. Em 2017, no Facebook, a média de cliques em publicidade foi de 0,9%, ou seja, 1 em cada 100 pessoas clicavam em anúncios (se todos forem como eu, é menor, porque eu clico em 50% dos anúncios sem querer xD).
Não é só colocar um anúncio, pagar ao Facebook e temos sucesso instantâneo! O anúncio tem que ser apelativo, o produto tem que estar direcionado para a população certa – não faz muito sentido vender aparelhos auditivos a jovens de 20-30 anos – entre muitos outros fatores.
A Shoshana Zuboff diz mais umas coisas sem sentido, pelo que vou colocar em anexo
É verdade que as redes sociais conseguem direcionar a publicidade para o público alvo de modo muito mais eficiente que a rádio e a televisão, mas pessoalmente, vejo isso como algo bom. Pior que ver publicidade é ver publicidade inútil. Pelo menos mostram algo em que posso estar interessado.
É a partir da publicidade que sabemos que bens e serviços existem no mundo. São os anúncios que permitem a empresas em crescimento expor o seu produto e competir com empresas mais estabelecidas.
Isto é um extra que vou colocar em anexo, mas para quem viu o documentário, o Tristan Harris a certa altura diz “Ninguém ficou chateado quando as bicicletas apareceram” como que a justificar que a maneira como as pessoas ficam revoltadas com as redes sociais não aconteceram com outras invenções. Mas ao que parece, muitas pessoas eram contra as bicicletas xD porque elas davam independência à mulher, pois esta deixava de depender do homem para se transportar. Vou deixar alguns links aqui sobre este assunto.
As várias plataformas referidas no documentário têm um modelo de negócio no quais o aumento da interação dos utilizadores com a aplicação resulta num aumento de receitas para a empresa. Assim, existe grande competição pela nossa atenção e qualquer vantagem que uma empresa consiga é utilizada. Desde 2009 com a implementação do “Like button” pelo Facebook, até ao presente o design de cada plataforma evoluiu de modo a tornar cada uma, o mais apelativa e viciante possível.
Para isso, utilizam diferentes técnicas psicológicas similares às utilizadas em casinos por todo o mundo – recomendo os episódios “What Happened in Vegas” e “Should’ve Stayed in Vegas“da podcast “Your Undevided Attention” para mais informação sobre o assunto. Esta podcast faz parte do “Center for Humane Technology“, fundada pelos criadores do “The Social Dilemma”. (Já agora, recomendo a maior parte dos episódios, pois ao contrário do documentário, eles não são tão sensacionalistas e tem uma discussão mais interessante sobre estes problemas.)
– Estratégias como oferecer o mínimo de resistência possível na interface, não apresentar nada que faça o utilizador tomar decisões – porque ao fazê-lo este tem tempo para pensar e pode decidir sair da aplicação – ter um scroll infinito para que haja sempre algo mais para ver. Ter sempre notificações novas ao atualizar a pagina para manter o utilizador a interagir, entre outras. (A podcast é interessante, começa por explicar como se fazem as coisas nos casinos e depois mostra como isso foi implementado nas redes sociais.)
Recomendo também o artigo “Dopamine, Smartphones & You: A battle for your time” da Universidade de Harvard. Fala sobre a libertação de dopamina quando se utiliza as redes sociais, de como sempre que recebemos um like, uma mensagem, partilham algo nosso, etc, temos uma pequena libertação de dopamina e que esse estímulo positivo reforça o comportamento efetuado. É impercetível, mas a certa altura já associamos a vibração do telemóvel a uma possível notícia positiva, o que implica mais um pouco de dopamina para a veia xD
Assim, somos estimulados constantemente e recebemos recompensas que anteriormente só eram possíveis através de outras atividades. Lentamente vamos ficando viciados e “programados” a voltar ao telemóvel à espera da “próxima dose”. – É parecido com ensinar um cão. Damos-lhe um pouco de comida para ele associar o comportamento à recompensa. Mas no nosso caso o comportamento é estar agarrado ao telemóvel -.-
No filme o Tristan Harris diz: “Uma ferramenta não exige a nossa atenção. É algo que espera no lugar para ser utilizado, como um martelo ou uma mesa. Passamos de um sistema baseado em ferramentas para nos ajudar a aumentar a produtividade para um sistema onde as ferramentas competem pela nossa atenção e diminuem a nossa produtividade e bem-estar.” – Parafraseando.
Por um lado eu concordo com ele e tudo o que foi dito em cima é bastante interessante e de certo modo preocupante. Mas mais uma vez, são afirmações sem o contexto que merecem e com bases frágeis.
O objetivo de qualquer empresa é que o seu produto seja o mais viciante possível. Isto não é exclusivo das redes sociais. Um café, uma padaria, qualquer tipo de jogo (arcada, fantasy football, candy crush, league of legends, …), desportos, roupa,… Qualquer negócio que queira crescer quer que os seus clientes gostem do produto e interajam o máximo possível com o mesmo!! O trabalho de cada empresa é fazer o produto mais aliciante possível (nos limites legais) para ter o máximo de receita! Se eu faço detergentes, eu vou fazer os detergentes com a melhor relação preço-qualidade ou com o melhor marketing possível para que as pessoas comprem os meus detergentes. Porque se não vender e tiver sucesso, posso acabar por ir à falência e mandar os meus empregados para o desemprego, é igual em tudo. A responsabilidade de as redes sociais serem viciantes não pode ser dos produtores das redes sociais, porque o trabalho deles é fazer com que estas sejam viciantes xD Elas são viciantes porque são bem-feitas.
Com isto, não estou a defender que as coisas continuem como estão. O açúcar também é viciante e quando nos apercebemos ter consequências negativas também foram impostas regras para reduzir o impacto negativo do mesmo. Nomeadamente nas escolas e assim. Mas eu vou discutir soluções mais em diante.
Este ponto e o próximo são os que mais me preocupam honestamente. É fácil ficar viciado numa rede social e confundir as interações que temos como algo que é verdadeiro e traz valor à nossa vida (em muitos casos traz mesmo! Mas não estou a falar desses.). Quase de certeza que todos nós já experienciamos aquele momento em que fazemos scroll pelo feed e pensamos “porque estou a perder tempo nisto?” mas continuamos… é um sentimento de vazio que tentamos preencher continuando a utilizar a plataforma, mas isso só aumenta o vazio… Eu já me senti muitas vezes assim, não tanto com as redes sociais, mas mais com jogos de computador, então entendo o sentimento expresso. É tudo por aquele pico de dopamina que afasta os problemas durante mais uns minutos antes de o vazio voltar.
Existe uma correlação incrivelmente assustadora entre o aparecimento de redes sociais e o aumento de mutilação e suicídio por parte de adolescentes e pré-adolescentes do sexo feminino, como apresentado no documentário. O aumento em ambas foi superior a 50% em adolescentes e a 150% em pré-adolescentes. Enquanto seres humanos, estamos programados para nos preocuparmos com o que a nossa tribo pensa de nós, porque isso acaba por afetar a nossa vida. No entanto, segundo o número de Dunbar (Link em Português), há um limite para o número de pessoas com as quais cada ser humano tem a habilidade de manter um contacto. As redes sociais expõem os seus utilizadores a uma quantidade muito superior de interações do que as que estamos prontos para processar. Juntando isto à tendência humana de nos focarmos nos comentários negativos e é plausível que adolescentes e pré-adolescentes que ainda não desenvolveram a sua personalidade e talvez não consigam lidar da melhor forma com criticismo ou comentários negativos, quando expostos às diversas plataformas por longos períodos de tempo sofram algum impacto negativo na sua saúde mental. E isto vale para todas as pessoas independentemente da idade, mas há uma incidência maior em jovens, particularmente do sexo feminino, pelos estudos que vi.
Eu pesquisei um pouco mais a fundo sobre este tema, porque é realmente preocupante. Como podem ver na imagem anterior, existe uma correlação entre o tempo que jovens passam nas redes sociais e a percentagem de jovens que sente depressão, no entanto, correlação não implica causalidade e há informações contraditórias dependendo de onde se procura.
Há estudos que não encontram correlações estatisticamente relevantes entre os participantes para considerar que o aumento de problemas de saúde mental são causados pela sua interação com as redes sociais. (Claro que podem contribuir, mas não são o ponto fulcral.) Esta publicação no MedicalNewsToday explica o artigo que enviei antes.
Há muitas outras razões que podem ter contribuído para este aumento, entre as quais uma abertura da sociedade para este tipo de problemas, que acaba por aumentar a quantidade de casos reportados.
Por outro lado, há quem refute o estudo que apresentei anteriormente argumentando que os dados não foram tratados da forma correta.
O melhor recurso que encontrei online que compila a abundante pesquisa feita nesta área é este google docs criado por Jonathan Haidt e equipa num esforço para compilar toda a informação relevante existente sobre o tema e provar que as redes sociais têm um efeito negativo comprovado nas gerações mais novas. O documento tem mais de 100 paginas, com estudos a favor e contra a tese inicial dele. Obviamente não li tudo, mas pelo que li a maior parte das correlações não se limitavam as redes sociais. Estavam também relacionadas com jogos, tempo passado no telemóvel, computador e outras coisas que envolviam tempo à frente de um ecrã. A correlação entre tempo passado em frente a ecrãs e bem-estar parece óbvia, e os problemas de saúde mental aumentam bastante quando se passa as 4/5 horas de utilização.
Dava para fazer uma publicação só sobre esta pesquisa. Convido quem tem interesse a explorar o google docs, tem lá os links para diferentes artigos científicos. Recomendo também o episódio “Are the Kids Alright” da podcast Your Undivided Attention que é com o Jonathan Haidt e é talvez o mais interessante que eu ouvi.
Não é relacionado com as redes sociais, mas há uma plataforma de investimento chamada Robinhood que recentemente foi acusada de algo muito parecido ao que acusam as redes sociais, depois de um utilizador se ter suicidado. Se quiserem ler vou colocar isso nos anexos.
Como já referi anteriormente, para aumentar a interação, o algoritmo mostra-nos aquilo com que mais interagimos. Aprende cada vez mais quais são as minhas tendências e recomenda tópicos similares que outras pessoas com um perfil similar ao meu também seguem. É fácil entender que ao final de algum tempo isto leva à criação de bolhas de informação onde apenas nos mostram aquilo que queremos ver e raramente o ponto oposto. A existência destas bolhas não promove o nosso espírito critico, pelo contrário, desencoraja o mesmo. Juntar isto à tendência humana de simplificar as coisas e de adotar o ponto de vista de um grupo como se fosse o seu leva a uma crescente polarização de grupo na nossa sociedade.
As redes sociais proporcionam uma plataforma de partilha de ideias na qual não é necessário um contacto cara-a-cara entre as pessoas. Isto dá uma sensação de segurança e poder que normalmente não existiria. Sentimos poder dizer o que quisermos por mais inflamatório que seja que não há consequências (normalmente podia haver o risco de levar um murro na cara…) e isso escala discussões ou resulta em afirmações como “Tá calado CoMuNistA de mERdA!” ou “Devias estar preso FasCisTA! nAzI!“, que promovem tudo menos paz e entendimento.
Isto por si só é preocupante e devia fazer cada individuo pensar se se encontra ou contribui para estas “bolhas”, no entanto, não é, na minha opinião, a parte mais assustadora. Do mesmo modo que é fácil para qualquer pessoa criar uma conta de Facebook, também é facilitada a criação de contas falsas. A melhor forma de atacar países onde estas plataformas estão disponíveis não é com bombas ou ataques de algum género. A estratégia mais eficaz é criando contras nas diferentes plataformas (Facebook, Instagram, Reddit, Twitter,…), perceber quais são os principais pontos de descontentamento da população e aumentar a interação nesses tópicos de modo que o algoritmo os sugira a mais pessoas. Por exemplo:
– O governo Russo descobre que há vários grupos de Facebook anti-vacinas espalhados pela plataforma. Cria 100 mil contas de Facebook falsas feitas apenas para interagir com aquele tópico ou outros tópicos inflamatórios. O algoritmo do Facebook vê que aquele tópico tem mais interação e como tal sugere-o a mais pessoas para que estas continuem a interagir com a plataforma. Como mais pessoas são expostas ao tema, algumas acabam por se juntar ao movimento que assim vai crescendo de força.
Isto é feito não apenas nos Estados Unidos, mas praticamente em todos os países em ambos os lados do espetro político, de modo a aumentar a polarização e destruir o país pelo interior. Há um gráfico que mostram no documentário que mostra que o povo Americano está o mais dividido das últimas décadas. Isso viu-se com todos os protestos que têm acontecido… Mais de metade das contas do Twitter que apoiam o desconfinamento e a abertura do país são bots, isto é uma campanha gigante por parte de alguém que quer espalhar desinformação e confundir o povo aumentando a polarização. É triste, mas as redes sociais podem ser utilizadas desta maneira.
Há países africanos onde o Facebook vem pré-instalado, de modo a ser o primeiro contacto que as pessoas têm com a internet (não encontro a referência onde obtive esta informação, por isso recebam com uma pitada de sal xD). A utilização do Facebook para manipulação em países africanos é incrível. Países como o Zimbabwe passam leis que lhes permite monitorizar a atividade online de cada cidadão e agora com a nova iniciativa do Facebook chamada “2Africa” na qual eles pretendem reforçar a conectividade no continente africano e permitir a utilização da aplicação sem custos, há preocupações em relação às consequências que este projeto pode ter.
Claro que a culpa disto não pode ser colocada toda no Facebook. Há limites ao controlo que a empresa consegue ter sobre a plataforma. Entre outubro de 2018 e março de 2019 eles eliminaram mais de 3 mil milhões de contas falsas… É ridículo o volume que isto alcançou e parece que só vai aumentar. Já para não falar que não existem pessoas a fiscalizar todas as línguas presentes na plataforma, só em África há mais de 1000 dialetos diferentes e não é possível controlar todos para saber o que é discurso polarizante ou não… O Facebook luta contra isto e, por exemplo, não permitiu que o governo do Egipto tivesse acesso aos dados dos utilizadores do seu país, para impedir monitorização e controlo da população, mas é impossível parar tudo…
Recomendo os episódios “Your Nation’s Attention for the Price of a Used Car“, “Facebook Goes ‘2Africa’” e “From Russia with Likes” da mesma podcast que já referia antes onde eles falam sobre temas semelhantes aos que referi!
Em relação a soluções, após ver o documentário e vasculhar o website dos criadores admito que fiquei um pouco dececionado. A maioria das sugestões que existem são bastante vagas e irrealistas. Coisas como deixar as redes sociais ou sugerirem que exista legislação, mas sem apresentarem ideias concretas de legislação… A única medida mais concreta defendida durante o filme e também num artigo do Financial Times foi o de regular redes sociais de maneira similar a serviços públicos em que as empresas pagam uma certa taxa em função dos dados que armazenam. No entanto, isto só irá contribuir para a diminuição da competição neste espaço. Enquanto empresas como a Google ou o Facebook não têm o mínimo problema em pagar algumas taxas, porque têm dinheiro com fartura, empresas competidoras mais pequenas e com menos capital que não dependam do mesmo modelo de negócio ficariam em risco por terem ainda mais encargos.
O documentário conclui (e bem) que tem que se contrariar a centralização de poderes na internet, porque estes só beneficiam as empresas que dominam. No entanto, apresenta como soluções, intervenção do governo ou taxas, soluções que acabam por ser contraproducentes. Gostei bastante deste vídeo que apresenta outras soluções concretas, entre as quais uma aposta em plataformas “open source” que não são centralizadas, têm a experiência do utilizador à frente dos lucros da empresa e são alvo de escrutínio constante, pois o código está disponível online para qualquer pessoa analisar. Ele apresenta também algumas plataformas alternativas como a duckduckgo ou a Signal (estas foram as que mais gostei e são alternativas ao Google e ao WhatsApp, respetivamente), entre outras. Recomendo o vídeo para mais informação sobre esta ideia.
Outra solução que gostei bastante foi proposta pelo Jonathan Haidt e é em relação à saúde mental dos mais jovens. Ele argumenta que redes sociais não são uma escolha. Se todos os amigos têm, quem não tem acaba por ser excluído das conversas. Claro que a responsabilidade inicial é dos pais, que devem limitar o uso de redes sociais e outras coisas viciantes por parte dos filhos, mas ele propõe que os pais se reúnam e façam uma experiência. Tentar que não se possa utilizar o telemóvel na escola. Ao entrar, entregam o telemóvel e recebem novamente quando saírem. Assim não sentem a tentação constante de se distraírem e são obrigados a interagir uns com os outros de outras formas. A ideia é depois comparar os resultados entre as escolas que o fazem e as escolas que não o fazem em relação à saúde mental dos alunos. Estes testes seriam conduzidos idealmente durante a primária e ensino básico. Ele propõe que é um esforço que deve ser feito enquanto comunidade e não enquanto individuo. – Esta solução é apresentada no episódio “Are the Kids Alright?” que referi antes.
Por fim, uma solução que depende de nós é prestar atenção. Para poupar energia o nosso cérebro acaba por entrar em piloto automático e desenvolver hábitos. Hábitos como pegar no telemóvel e abrir só porque sim, quando estamos aborrecidos. Tentar desenvolver a nossa autoconsciência e controlar os nossos impulsos é uma solução que está completamente ao nosso alcance, mas requer algum esforço. É o mesmo que prestar atenção à nossa postura, tenho o hábito de estar com posturas erradas quando estou a pé ou sentado, então sempre que me lembro corrijo a minha postura. Tentei aplicar a mesma autoconsciência à minha relação com o telemóvel e não pegar imediatamente nele quando estou aborrecido. Se estou na casa de banho, no café, à espera na fila da farmácia, a passear o cão, etc, estou só a fazer essa atividade. Sozinho com os meus pensamentos. Não é fácil, e várias vezes devo parecer um idiota, porque paro a meio dos movimentos xD (ou então já estou com o telemóvel na mão…).
A parte boa desta solução é que estar aborrecido não é algo mau. Aliás, tudo o que eu encontrei aponta para que seja um super-poder nos dias de hoje! Quando estamos aborrecidos damos espaço ao nosso cérebro para formar conexões, ser mais criativo e pensar em soluções alternativas para problemas que possamos ter. Por isso é que algumas das nossas melhores ideias aparecem no chuveiro ^^
Eu estou a tentar implementar ficar aborrecido na minha rotina (principalmente de manhã…) Pode ser algo a considerar 😉
O Documentário levanta questões importantes, mas faz-no de um modo demasiado dramático e manipulativo. Entendo que para chamar à atenção neste mundo em que somos constantemente estimulados é necessário algo dramático para nos chamar à atenção, mas exageraram. Apresentaram a opinião deles como se fosse um facto e acabaram por se tornar naquilo que criticam, uma bolha de informação que não apresenta os vários lados da história.
Os problemas que eles apresentaram são reais e preocupantes, mas foram apresentados sem contexto e as soluções apresentadas foram vagas e irrealistas. Gostava que tivessem convidado outras pessoas, como, por exemplo, os líderes de outras plataformas que competem com o Facebook ou a Google e que têm atenção a privacidade das pessoas como a duckduckgo ou a signal que referi antes. Mas não o fizeram, então acabou por ser pobre em diversidade de opiniões.
Penso que eles fizeram um trabalho importante para acordar as pessoas e o grupo de pessoas que trabalha no centro para tecnologia humanitária é pequeno (algo que eles estão sempre a dizer nas podcasts xD) e não conseguem fazer tudo, mas sem dúvida conseguiam fazer algo mais ponderado e menos sensacionalista que se focasse em passar informação ao público.
Apesar de todos os problemas e dificuldades que se vai encontrar pelo caminho, defendo que as redes sociais e tecnologia em geral continua a ser tremendamente mais benéfico que nocivo para a generalidade da população e isso tem que ser reconhecido. Junta pessoas (super importante durante este tempo de pandemia e confinamento), organizam-se eventos, a informação está mais acessível que nunca… Grande parte das coisas que eu sei e aprendo, aprendo graças à existência da internet. É verdade que o facto de existirem tantos estímulos diferentes dividem a nossa atenção, mas se estivermos dispostos a focar-mo-nos, temos tudo o que é necessário para o desenvolvimento pessoal e espiritual de qualquer individuo na internet grátis e disponível para qualquer pessoa (nos países onde não há restrições)
Ainda não vi, mas um amigo meu (que entende mais que eu do tema) recomendou-me estes 3 filmes “Low and Behold“, “The Cleaners“, “Zero Days” são sobre o tema e são melhores (na opinião dele). Planeio ver.
Ainda, na minha pesquisa eu encontrei muito mais sobre o que falar, mas não posso falar de tudo… Se não tiverem nada que fazer, deixo aqui o link para as minhas notas, onde tenho praticamente toda a minha pesquisa e pensamentos. (é preciso ter uma conta na roamresearch tho 🙁 )
E para terminar, vou deixar esta citação, traduzida por mim, do livro “Amusing Ourselves to Death” de 1985. Ela passa uma mensagem um pouco assustadora, mas acho que compensa cada pessoa refletir sobre a mesma. Resume 2 visões diferentes de para onde a sociedade caminha. A visão de George Orwell e a visão de Aldous Huxley. Aqui fica:
– “O medo de Orwell é que forças opressoras banam livros, nos restrinjam a informação, que a verdade nos fosse ocultada, que não existisse liberdade para a cultura porque as pessoas são controladas quando lhes é infligida dor.
O medo de Huxley é que não haja razão para banir livros, porque ninguém os quer ler; que tenhamos tanta informação que nos reduzamos à passividade e ao egoísmo; que a verdade se afogasse num mar de irrelevância; que a nossa cultura se tornasse trivial, preenchida com coisas supérfluas e efémeras; porque as pessoas são controladas quando lhes é infligido prazer.” … “Orwell receava que aquilo de que temos medo nos arruinasse e o Huxley receava que aquilo que desejamos nos arruinasse…”
Acho esta passagem incrível, porque oiço constantemente falar do medo de George Orwell e identifico constantemente o medo de Aldous Huxley… É algo para se pensar 🙂
Com isto, Obrigado por leres até aqui! És incrível e até à próxima! 😉
“The feminist history of bicycles” – fala de como a bicicleta ajudou na emancipação feminina não só em termos de transporte mas também em termos de libertação sexual. (Acreditava-se que por andarem de bicicleta as mulheres iam começar a ter orgasmos a torto e a direito com os embates e vibrações experienciados pelo selim ao andar de bicicleta xD – era o vibrador da altura… e isso era visto como algo mau, obviamente).
“Bicycle Face” – Fala de como os médicos “inventaram” um problema chamado cara de bicicleta, que deriva da cara de esforço feita quando se está a aprender a andar de bicicleta e que levava ao aparecimento de rugas e ao envelhecimento mais rápido da cara das meninas. (Obviamente é falso, mas tem piada…)
“Pedaling the Path to Freedom” – Fala sobre a mudança no estilo de vestir feminino com o aparecimento da bicicleta, porque vestidos muito grandes e assim não davam jeito nenhum.
Este é um jornal de 30 de Maio de 1897 em que escritor escreve a seguinte frase: “Os tornozelos das mulheres ultrapassaram as montanhas brancas de neve como a vista mais bonita da terra”. Acho piada que havia uma altura em que as mulheres mostravam os tornozelos e era a vista mais bonita da terra xDD (Não que agora não seja!)
Já falei de um ponto em que ela estava errada. Durante o filme, esta menina também foi a que disse este mercado faz transações em futuros humanos e que devia ser abolido como o mercado de troca de escravos. Wtf… O que ela disse pode parecer assustador, mas um mercado de transações de futuros no fundo, é: – eu quero comprar 100 Kg de carne de porco para daqui a 6 meses. Como não sei se o preço da carne de porco vai flutuar vou comprar agora a um preço negociado entre as duas partes – por exemplo, 5 euros o quilograma. Assim se o preço da carne de porco aumentar eu poupei dinheiro, e no caso do vendedor, se o preço descer, ele ganhou dinheiro. Ambos ficam satisfeitos… Isto nem sequer faz sentido no modelo de negócio das redes sociais, porque eu compro hoje espaço publicitário para publicitar hoje! (e mesmo que fosse comprar publicidade para mostrar no futuro, é algo que televisões e rádios sempre fizeram. A sério, esta rapariga sempre que falou só tornou o documentário menos credível… e btw, é professora na Harvard Business School xD)
Do mesmo modo que as redes sociais, esta plataforma implementa estratégias de jogos, e das redes sociais para tentar incentivar os utilizadores a interagir mais com a plataforma. Recentemente um jovem suicidou-se depois de um erro na plataforma ter mostrado que eles estava com 730 mil dólares negativos na conta. Este artigo explica como a plataforma utiliza estratégias similares às abordadas no The Social Dilemma e os perigos descritos são muito similares. Há também uma correlação – neste caso mais de rapazes – entre quebras no mercado de stocks e aumento do suicídio.
Quero só acrescentar que se não fosse a RobinHood não existiriam hoje em dia compras de stocks sem comissões, eles foram pioneiros nessa área e também em tornar acessível investir à população em geral. Tal como as redes sociais, acho que têm mais bem que mal, mas não se pode ignorar as coisas más que acabam por resultar da plataforma, mesmo que a intenção inicial não seja essa.
Os governos pedem cada vez mais dados sobre os utilizadores do seu país e o cidadão não é avisado. (o Facebook não pode avisar sem a autorização do governo, pois pode ser por razões judiciais…)
Social Media Surveillance fala do mercado mundial de vigilância por parte dos diversos governos (uns piores que outros) nas diversas redes sociais.
Artigo sobre como a China avalia cada cidadão consoante o seu comportamento e os recompensa ou pune… É triste.
Na Rússia procuravam estudantes com atividade LGBTQ+ nas redes sociais e depois oprimiam-nos.
China – Silenciavam quem levantava opiniões contrárias às expressas pelo regime em relação ao corona vírus.
As desvantagens de existir regulação nas redes sociais
Fala sobre como é impossível uma entidade governamental ou empresa controlar todas as notícias falsas e cabe a cada pessoa não propagar mais essa informação inflamatória.
Facebook sobre as suas tendências contra pontos de vista conservadores
Trabalhadores do Facebook falam sobre como são escolhidas as notícias que aparecem no feed e como é que os algoritmos são “treinados”
Dono do Twitter admite que a plataforma é tão liberal que os trabalhadores conservadores não se sentem seguros a exprimir a sua opinião.
(1) – Imagem retirada de: https://docs.google.com/document/d/1w-HOfseF2wF9YIpXwUUtP65-olnkPyWcgF5BiAtBEy0/edit?ts=5c5bbb05 página 18
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