Olá olá! Pensaste que este blog terminou? (In)Felizmente não! Provavelmente até já tinhas saudades ^^
Eu emigrei! Aceitei uma proposta de emprego na Bélgica e mudei-me para cá! Então, aqui vai uma publicação sobre ser emigrante 🙂
Como podem imaginar, os últimos meses têm sido bastante atarefados… Desde que assinei o contrato em fevereiro até hoje, a minha vida está um bocado no caos e deve continuar assim mais uns meses…
Vou fazer duas publicações sobre a minha mudança! Esta primeira em que falo da minha experiência, dou update na minha lista de objetivos e coisas assim, e uma segunda em que me foco no “processo” de mudança… No fundo, é “Emigrar para totós“!
No dia 15 de abril comecei a trabalhar na Imec, uma empresa que, entre outras coisas, faz pesquisa e desenvolvimento em nanotecnologia. Como referi em Ano Novo, Vida Nova, eu procurava oportunidades de emprego em Portugal e no estrangeiro…
Ao todo, enviei currículos para ± 94 empresas (mais que um currículo para várias dessas empresas). Cerca de 70 empresas estrangeiras e as restantes portuguesas. – Btw, para cada empresa, fiz uma carta de motivação personalizada e por vezes modifiquei o currículo para ajustar ao que procuravam… Apesar do meu esforço, ao longo dos 4/5 meses de procura, recebi apenas 4 respostas positivas a convidar para entrevista – uma das quais, portuguesa – e duas propostas de emprego – ambas estrangeiras.
– Escrevo com algum pormenor para não pensarem que é fácil xD Costuma dizer-se que as pessoas que mais gostam de trabalhar são as que procuram emprego… Estão sempre “empenhados, dispostos a aprender, fazer horas extra”… tudo para conseguir um emprego hahaha
Mas pronto, falarei mais sobre este processo na próxima publicação!
Como qualquer mudança na vida, emigrar oferece-me uma possibilidade para crescimento. Vou enfrentar voluntariamente várias coisas que estão fora da minha zona de conforto e conhecimento, e quando as conseguir incorporar no meu “mapa” do mundo, é sinal que expandi a minha área do conhecido! – Como aqueles mapas de raspar em que colocamos os países que já visitamos… – Dei um passo em frente e descobri um pouco mais da zona escura que era até então o “desconhecido”.
E em que consiste este desconhecido?
Bem, mudei-me para um país onde não conheço ninguém, com burocracias e regras que tenho que aprender, uma cultura algo diferente, onde se falam 3 línguas diferentes e para um trabalho sobre o qual sei zero. Por fim, todas as minhas rotinas foram ao ar, então sinto-me um pouco perdido no meio do caos…
Claro que não me mudei para a Tailândia ou para o Irão (nada contra esses países xD), estou num país europeu e como tal, tem várias semelhanças a Portugal!
Não temos todos a mesma tolerância ao caos, e para mim esta mudança é perfeita, porque é um nível que sei que aguento, mas, em simultâneo, é desafiante e “obriga-me” a avançar.
-> Dito isto, não é necessário emigrar para “avançar”! Uma simples mudança de rotina, aprender um instrumento novo, vestir roupa diferente, começar/acabar uma relação, mudar de emprego são tudo exemplo de diferentes nível de caos que podemos introduzir no nosso dia a dia e quando incorporamos e “conquistamos” essa novidade, ela torna-se parte de nós e podemos dizer que somos um bocadinho mais que aquilo que éramos ontem!
Infelizmente, ter confiança que consigo ultrapassar este desafio não o torna fácil, e as primeiras semanas foram um pouco chatas… Não tinha uma rotina definida – ainda não tenho, mas já está melhor… – e não sabia bem o que fazer com o meu tempo. Era um limbo… Durante a primeira semana escrevi um texto. Queria libertar o que sentia e colocá-lo por palavras… clarificar o pensamento… Deixo aqui o texto:
O silêncio da casa.
O não ser compreendido.
A espera pela hora de trabalho…
A espera por um propósito…
Não quero deixar a vida passar, há tanto para viver!
O que fazer? Por onde começar?
Qual a luz que devo seguir? Qual estrada caminhar??
Sinto que não há estrada, sinto que há mil opções,
Sinto-me paralisado em ambas situações.
Quero fugir.
Quero um refúgio para esta ansiedade e incerteza que sei que devo enfrentar,
Mas como? Porque devo?
Tenho medo de falhar… Impede-me de seguir
Estou num país novo, sem nada a perder,
Perco-me nos meus pensamentos.
Impedem-me de seguir…
Não importa para onde vou,
O que tenho que mudar está em mim.
Não é o local onde estou que vai tornar tudo bem,
Só distrai a ânsia de viver com toda a novidade temporária…
A incerteza está lá.
Um vazio à espera do seu momento.
Temporariamente mascarada pela novidade
Que ataca sempre, n’O silêncio da casa.
Ya, de vez em quanto estive um pouco depressivo xD. É fácil ficar paralisado com todo o caos à minha volta… – assim como é fácil ficarmos na inércia quando tudo à nossa volta é ordem e não queremos que mude… já tive as duas experiências ^.^ Resultados muito similares de estímulos completamente diferentes! Interessante!
Ajudou-me bastante escrever e conseguir definir objetivos concretos para os meus dias! – Algo que comecei a fazer no dia em que escrevi isto hahaha
Estava claramente na altura de tomar as rédeas da minha vida! Quem ler isto até pensa que tenho a pior altura da minha vida xD Não! Estou a gostar mesmo muito de todo o processo, mas estar diariamente com a energia no máximo e cheio de pensamentos positivos é complicado… – até para mim! – e é importante não ignorar esta parte de mim que se sentia menos bem – se temos algo que nos causa desconforto interno e em que pensamos constantemente, provavelmente devíamos fazer algo em relação a isso!!
O texto é uma tentativa de eu entender o que sentia e pensava… Foi o que saiu. Há várias maneiras de expressar algo deste género, desta vez foi esta… Colocar sentimentos em palavras não é fácil, mas ajuda-nos a compreender a nossa própria experiência. Passa do “reino do desconhecido” para o “reino do conhecido”, que nos é mais confortável.
Mas pronto, não vim aqui para falar sobre um texto, o ponto principal é que quanto mais coisas mudar, mais caótico fica o meu mundo, mais coisas são desconhecidas para mim. E o desconhecido paralisa. É em simultâneo, um mar de infinitas possibilidades e um deserto árido e assustador…
Cada pessoa tem o seu próprio ritmo de adaptação e necessidades. Eu, para sentir que realmente pertenço a um local, preciso de o conhecer e de ter um grupo de amigos com os quais partilhar experiências… É algo crucial para mim! Então esta foi a minha prioridade! Tornar Leuven numa cidade à qual eu sinto que pertenço. – Claro que, em simultâneo, tratava das burocracias da vida (que sugam bastante energia xD)… Arranjar casa, registar-me aqui, conta bancária e bla bla bla…
Para arranjar o grupo de amigos, comecei a fazer jantares semanais em diferentes restaurantes, e a convidar pessoas interessantes que conhecia ao longo das semanas! Para conhecer a cidade e o país, fiz algumas “free walking tours” – que quem me conhece, sabe que eu gosto de fazer – e tento experimentar diferentes cafés, lojas, supermercados, bibliotecas, passeio pelas ruas, etc… Quanto mais eu explorar a cidade, mais sinto que a conheço. Cada local diferente em que entro, deixa de ser um sítio desconhecido e passa a ser uma parte da cidade com a qual me sinto confortável e isso é muito fixe!
E o esforço compensa! Somos todos seres humanos, independentemente de onde se nasça. Como tal, também temos todos necessidades mais ou menos similares, e é intrigante ver como não sou o único nesta situação, e se nos abrirmos à possibilidade de conhecer outras pessoas e formar uma ligação com elas, isso pode compensar muito!
Por exemplo, uma das primeiras pessoas que eu conheci foi o Taejin, um coreano que se mudou para cá na mesma altura que eu, e com quem eu me esforcei para criar uma ligação. Bem, acontece que eu em junho não tinha onde viver durante 20 dias, até a casa que estou agora a alugar estar disponível, e o Taejin deixou-me ficar em casa dele durante esse tempo todo! Sem pagar nada… – eu insisti, ele não queria nada, cozinhou para mim, e foi uma experiência ótima que não tinha acontecido se eu não tivesse dado o primeiro passo! Acho que é este o significado do ditado “A sorte favorece os audazes”. Só temos que dar o primeiro passo :)**
Mas não é só ir YOLO ser social! Eu sou uma pessoa com uma personalidade extrovertida e aberta a experiências, mas conhecer pessoas novas cansa… Ao fim de 3 semanas a dar tudo eu estava esgotado emocionalmente! Temos energia limitada, e para criar ligações é preciso fornecer energia (é a energia de ativação da reação para os nerds da química ^^) – claro que depois, se a afinidade da ligação for alta, recebemos mais energia que a que investimos! – Maas pronto, também preciso dos dias em que faço algo de conhecido e confortável, como jogar League of Legends com o meu irmão ou com o Renato e o Gerson, ou então ver uma série/anime/YouTube… É encontrar o balanço 🙂
Uma das minhas motivações para emigrar é ganhar mais dinheiro! – Não tem tanto peso como ir para uma empresa boa que me dê boas oportunidades de crescer e viver num país que me agrade, mas sem dúvida é algo que ajuda!
Em termos internacionais, eu nem ganho muito… Mas consigo poupar um pouco mais que em Portugal e sinto-me mais confortável a gastar dinheiro! Se eu quiser ir a um concerto, uma palestra, viajar, etc, eu vou sem um peso na consciência de estar a gastar mais que o que devia! E isso é libertador, é a liberdade que procuro e que em determinadas situações, ter dinheiro ajuda a alcançar! – Tudo isto só é possível porque primeiro tenho a sorte de ter nascido num local com a liberdade de poder escolher onde trabalhar, à qual estou muito grato! <3
Não foi 100% planeado, mas estou numa zona central da Europa e o meu meio principal de transporte é a bicicleta – tenho tudo a menos de 15 min de distância... – Só isso já me ajuda a poupar imenso dinheiro!! Depois há mais uns truques, mas deixo para a próxima publicação que esta já vai longaaa!
Com esta mudança de 134º na minha vida, quero também fazer um pequeno update nos meus objetivos!
Se se quiserem relembrar do que me propus a fazer para 2022, podem reler Ano Novo, Vida Nova, como já referi em cima!
Começar por dizer que ter 60k investidos não está fácil… O ocidente está prestes a entrar em recessão, a inflação está super alta, há guerra na Europa, os preços estão a disparar eeeee eu tenho menos dinheiro que quando fiz a publicação de dezembro (apesar de ter investido mais desde então). Mas pronto, tento investir 800 € por mês e vamos ver até onde consigo chegar!
Em relação a arranjar um emprego e sair de casa dos meus pais, já está feito! Fora os 2 juntos hahaha
O resto dos objetivos, ficou no limbo… Como (talvez) repararam, não tenho escrito todos os meses, praticamente parei de meditar, li pouco, parei de aprender Python em fevereiro, ainda não tenho nada de freelance e não estou consistente a fazer exercício físico…
Claramente as minhas prioridades mudaram bastante, mudei o meu foco para construir um grupo de amigos novo, adaptar-me ao país e também viajar um pouco! Tenho a minha casa há 2 semanas, ainda não está completamente mobilada (veio sem nada -.-‘) e ainda não cumpri todas as burocracias associadas a mudar para outro local. Não espero que a minha vida volte à normalidade até setembro/outubro – espero nessa altura já ter tudo mais estável =)
Tido isto, os objetivos continuam de pé! Escrever 15 publicações, ler 15 livros, fazer a espargata e flexões em pino é tudo fazível! Vou conseguir até ao final do ano ^^
O resto, logo se vê. Para já não é o meu foco.
Até lá, vou vivendo dia a dia, tentando ser o melhor profissional e a melhor pessoa possível 😉
Vejo-vos na próxima publicação!!
Ricardo Gomes Ribeiro 😉
** Ou pelo menos estar aberto à experiência. Não temos que estar sempre a “dar o primeiro passo”… Podemos estar só abertos à experiência! Já é bué progresso =)
(1) – https://www.amazon.com.br/Raspar-Unlocked-moldura-Scratch-Raspadinha/dp/B08WRFMRRN