Mel – A cadelinha que me inspirou

Labrador Playing around in green grass

Bem… Já estava a preparar esta publicação à algum tempo, mas acabei por ter que a mudar.

O último mês tem sido um pouco frenético. Arranjei emprego e a minha família adotou uma labradora bebé. O meu tempo desapareceu xD

Ter um ser vivo novo cá em casa é muita responsabilidade, e eu tinha medo que ela e o Faisca (o meu outro cão, o pastor alemão gigante da foto) não se fossem entender muito bem…
Eu sempre gostei de cães, mas quando o Faisca veio para minha casa eu estava na universidade e acabei por nunca lhe dar a atenção e treino que ele merecia. Ele é simpático e brincalhão com a família, mas não obedece a ninguém e ataca desconhecidos, o que agora que tinha uma cadelinha nova era preocupante…

Decidi juntar o útil ao agradável e treinar os meus dois cães em separado até sentir que os podia apresentar! Obviamente tive a ajuda da minha amiga internet para saber o que fazer! Procurei como educar cada um dos cães, que estratégias utilizar e tudo o que conseguisse encontrar para me ajudar neste processo.
O objetivo de educar o Faisca depois de 6 anos sem praticamente regras nenhumas e de impedir a Mel de seguir o mesmo caminho é um bocado ambicioso… Rapidamente me apercebi que ia enfrentar mais obstáculos que esperado.

 

 

German Shephard playing
Faisca!
Labrador puppy playing with a boy
Mel <3

Obstáculos e opções:

Vou começar pelas principais dificuldades e obstáculos que sinto e como os tento ultrapassar. De certeza que não sou o único que as sinto e a minha experiência pode dar umas ideias sobre como trabalhar à volta delas.

A primeira dificuldade é o tempo. Ter um trabalho implica que no mínimo 9 horas da minha vida são passadas na empresa e afins, o que é chato para uma cadela bebé que acabou de ser retirada da família e que precisa de alguém com ela.
O meu horário passava por soltar o Faísca 10/15 min antes de ir trabalhar, para ele libertar alguma energia. Ao almoço (13h) soltava a Mel e almoçávamos juntos (caso ela ainda não tivesse almoçado.) e eu levava-a a fazer cocó. Ao fim do dia finalmente conseguia passar mais algum tempo com os cães – passava mais 40 min/1h a libertar a energia ao Faisca e a treina-lo e passava mais 1/2h a brincar com a Mel, dar-lhe de comer e todas essas coisas. Ao todo eu passava cerca de 3/4h por dia com os cães, que junto com ir ao ginásio e conviver com a minha família me deixava completamente morto e incapaz de escrever no final do dia xD

Durante a terceira semana já tinha uma rotina mais ou menos estabelecida então ficava mais fácil de a seguir e ser mais “eficiente”. Chego ao fim do dia completamente roto, mas feliz porque progredi mais um pouco!

Labrador falling a sleep
Mel cheia de energia a convencer-me a ir brincar...

A segunda dificuldade é o treino. Admito que principalmente na primeira semana o treino era frustrante. Não vi muitos frutos pelo meu esforço e apercebi-me que claramente não entendia o suficiente sobre treinar animais apesar de ter interesse pelo tópico. Então fui procurar mais sobre o assunto, e deixo aqui alguns pontos que me ajudaram:

  • É impossível que um cão esteja disponível a aprender o que seja se estiver cheio de energia armazenada e prestes a explodir!
    O ideal é gastar essa energia primeiro, para o cão não estar tão excitado e ficar disponível para aprender.
    Claro que se o cão for mais energético vai requerer mais esforço xD ensina-los a jogar ao busca dá sempre resultado! (e sim, é preciso ensinar. Vão ver que no princípio o vosso cão pode não estar muito interessado, mas à medida que vai aprendendo a jogar fica cada vez melhor e mais interessado =)
  • Com cães energéticos temos que ser energéticos! Principalmente no início dos treinos, porque eles perdem o interesse rapidamente xD Temos que captar a atenção deles e tornar-nos mais interessantes que o ambiente à nossa volta… o que não é tarefa fácil…
  • Temos que ter muuuita paciência xD Eu estava a tentar avançar para ensinar a caminhar sem puxar a trela e coisas assim, mas apercebi-me que é importante começar pelo básico. Ensinar o cão a olhar para nós, sentar, deitar e a cima de tudo prestar-nos atenção em vez do ambiente.
    Inicialmente começo com movimentos pronunciados para o Faisca e a Mel entenderem o que pretendo, tento sempre marcar sempre as ações que eu gosto com uma recompensa, quer seja com um docinho, uma festinha ou com um brinquedo. Dito isto, o que marca a boa ação não é a recompensa. Tem de existir algo que marca a interação para que o cão associe essa marca a uma recompensa. Isto pode ser um clicker para cães, um estalar de dedos, um assobio ou outra coisa qualquer, desde que seja repetitivo e distinguível! Isto é algo que eu não estava a fazer até à pouco tempo…
  • Em relação ao sítio onde treinar, o ideal é começar por um local simples com o mínimo de distrações possível até ele estar habituado a seguir a nossa liderança e depois aos poucos vamos tentando locais cada vez com mais distrações… Sinceramente não consigo imaginar quando é que vou conseguir ir com o Faisca à rua xD mas espero que algures pelo verão do próximo ano já sinta que é possível!
    Also, temos que nos lembrar que quando se leva o cão a um local diferente é uma experiência completamente nova para o nosso parceiro, então é preciso ter alguma paciência e deixa-lo ambientar-se ao local… Então já sei que ele vai acabar por puxar a trela durante mais algum tempo.
  • Já que falei de puxar a trela, também há algumas coisas que tenho que me lembrar – recompensar o cão sempre que não tem tensão na trela, mudar de direção ou dizer-lhe para se sentar quando ele começa a puxar. Se estiver a treina-lo, o objetivo não é ir de ponto A até ao ponto B, o meu único objetivo é que ele não puxe a trela xD até posso andar sempre nos mesmos 10 metros durante meia hora… não interessa, importa recompensar um certo comportamento!
  • Para a cachorrinha bebé também tenho que me lembrar de a treinar a ir fazer cocó ao sitio certo, gostar da casota dela e ficar lá sem chorar, ensinar a não morder chinelos, roupa ou pessoas entre muitas outras pequenas coisas e situações que aparecem todos os dias…

Também acho que com o tempo nos habituamos cada vez mais ao nosso amigo de quatro patas e entendemos melhor quais são as ações e intenções que eles têm. E vice-versa, eles também entendem cada vez melhor a mensagem que nós queremos passar, então a comunicação melhora a cada dia que passa!

Vou deixar aqui alguns links de vídeos e canais que me ajudaram! – https://www.youtube.com/c/zakgeorge/videos -Treinador Canino

https://www.youtube.com/watch?v=SIgwo49yTk8 – linguagem canina

https://www.youtube.com/watch?v=kTxL82Dp-XM – treinar um cão a não puxar a trela

German Shephard sitting and playing
Faisca à espera de mais um doce depois do treino xD

E sinceramente estas são as únicas dificuldades! Ao longo destas 3 semanas o processo tornou-se cada vez mais divertido e eu sentia-me mais conectado com os meus cães! No fundo, criar uma conexão é igual quer seja com um ser humano ou com outro ser vivo… eu partilhava parte do meu tempo com o Faisca, ou com a Mel (principalmente com a Mel, porque era a novata cá em casa) e isso fortalecia a ligação entre nós. Eu sinto-me feliz por sentir que sou importante na vida deles e os estou a ajudar a ter uma vida saudável e agradável e eles sentem-se felizes porque… eu atiro a bola? não sei, mas parecem felizes xD

E pronto, com um bocadinho de responsabilidade e paciência da minha parte comecei esta pequena jornada, comecei a treina-los, eles pagam-me com bastante amor e gosto cada vez mais desta rotina! Faz-me feliz, sinto que estou a ir no caminho certo e quero continuar!
Até que um dia, durante esta semana eu chego a casa às 13h para almoçar e descubro que a Mel morreu. Engasgou-se na própria comida quando ninguém estava à beira e quando os meus pais repararam já era tarde de mais… A comida era para bebé, ela nunca se tinha engasgado antes connosco e claramente ninguém esperava que isto acontecesse… Mas, de um momento para o outro, o ser vivo a quem eu prometi de manhã que quando voltasse do trabalho brincava com ele já não estava vivo…
Isto chocou-me bastante. Neste momento ainda não sei bem como o ultrapassar… A Mel foi a razão para esta mudança durante o último mês, uma mudança com a qual eu estava feliz e sentia que ia na direção certa. Não é justo que ela tenha que morrer… muito menos da maneira como aconteceu, sozinha e provavelmente aflita… é triste.

Claramente não lhe tirei fotos suficientes, não lhe fiz festinhas suficientes, não a adormeci vezes suficientes, dei por garantido que ela estaria lá no dia de amanhã…
Não sei se sou só eu, mas tenho tendência a tomar certas coisas como garantido quando, na verdade, elas não o são… E já devia ter experiência suficiente para não cometer esse erro. Mas pronto, é a vida e tenho que aceitar…

Labrador puppy playing piano
Adormecida com o som do piano...

Entretanto, a minha família tomou a decisão de pedir outra cadela ao homem que nos ofereceu a Mel. (A Cadela dele teve 9 filhos… Ele não sabe o que fazer com eles e ia enviar para adoção.) E assim pouco depois de dizer adeus à Mel e apesar de ainda não ter passado a tristeza de a ter perdido, tenho outro ser vivo nas minhas mãos.

Labrador puppy Sitting
Nala 🙂

Decidi chamar-lhe Nala, porque a acho parecida com a Nala do Rei Leão! Vamos ver se o nome pega xD
Ela não vai substituir a Mel, nem eu quero que ela o faça. É um ser vivo diferente com características e necessidades diferentes. É mais meiguinha, mais calminha e agora que já tenho quase 1 mês de experiência, vou conseguir cuidar dela de uma maneira melhor logo de início! (Para ser sincero acho que estou um pouco paranoico xD tudo o que ela trinca eu fico com medo que ela se engasgue, quando ela se coça eu fico com medo que tenha parasitas, quando ela come pouco acho que está doente… Tenho que relaxar mais um bocado. Mas com o tempo vou lá!)

Labrador Puppy playing
Nala à espera de festinhas

Eu sei que este texto talvez não seja bem o que estavam à espera quando viram no início (quando eu comecei a escrever também não esperava isto)… Acho que com isto quero passar a mensagem do impacto que o nosso animal de estimação pode ter na nossa vida e também a importância de não darmos as coisas como garantidas na nossa vida – principalmente quando se trata de relações com outros seres vivos que são efémeras…

Acima de tudo, esta publicação é em honra da Mel – A cadelinha que esteve comigo menos de um mês, mas que inspirou uma mudança que vai durar bem mais que isso. Vou continuar aquilo que comecei graças a ela e tornar os meus cães os mais felizes do mundo! Espero que ela caminhe para o seu céu canino cheio de brinquedos e diversão e que um dia a possa ver outra vez <3

Labrador Playing around in green grass
Até sempre <3

Related Post