Bem-Vindo =)

Há cerca de 1 mês encontrei esta Ted Talk – “5 Hindrances to Self-Mastery” – do Mestre Shi Heng Yi.

Ele é um Mestre Shaolin que vive no Templo Shaolin Europeu, na Alemanha. Gostei bastante da mensagem que ele passou e da maneira como o fez, pelo que, há 2 semanas decidi refletir sobre como posso aplica-la à minha vida, e procurei mais sobre o assunto.

Os vários obstáculos de que ele fala são sentidos por todas as pessoas, pelo que decidi escrever sobre este assunto.

Todos nós temos um caminho em mente de para onde gostávamos de ir, o que queremos ver e que experiências desejamos ter.
Mas nem todos nós percorremos esse caminho… Porquê?

Ele partilha uma história interessante que fala sobre isso. No vídeo é dos 5 min até aos 7 min e 30 seg. Eu vou colocar a história no final do texto. Podem ser ao clicar aqui.

Para percorrer o nosso caminho e experienciar o que desejamos é necessário ultrapassar várias barreiras internas e obstáculos.
Há 5 obstáculos internos que impedem ser mestres de nós próprios. Cada obstáculo representa um estado mental diferente que nos impedem de ver com clareza e atingir os nossos objetivos.

Sensual Desire

O desejo sensorial aparece no momento, quando estamos a prestar atenção a algo que nos dá uma emoção positiva.

Pode vir de 5 “portões” diferentes:

  • Visão
  • Audição
  • Olfato
  • Palato
  • Tato

Estamos a percorrer o nosso caminho, mas somos tentados por uma distração e isso desvia-nos do objetivo… A mim isso acontecia com jogos de computador ou com o telemóvel… Até podemos ter o objetivo de aproveitar o nosso tempo livre, mas muitas vezes a distração das redes sociais ou de um jogo faz com que esse tempo desapareça sem darmos um passo na direção que queremos.
É impossível perder peso se estivermos constantemente a distrair-mo-nos com comida e a ceder ao desejo sensorial do palato…
É impossível ter uma relação feliz se estivermos sempre a distrair-mo-nos com alguém que é mais atraente…

Quando nos deixamos levar pelo desejo ao ponto de ficar obcecados, é impossível ver com clareza… A não ser que se resista à tentação, não vamos continuar o nosso caminho.

Ill Will / Aversion

Estado mental que advém de emoções negativas.
Temos uma aversão, uma rejeição a um objeto, a uma situação ou a uma pessoa…

Utilizando a história como exemplo:

  • “Estou a subir a montanha e começa a chover…, mas eu não gosto de chuva”
  • “Para atravessar o rio tenho que nadar…, mas não gosto de nadar”

Aquilo que não gostamos não vai melhorar a nossa caminhada. E se não nos libertarmos dessa aversão, o mais provável é que não se percorra o caminho.

Na nossa jornada todos vamos encontrar coisas das quais não gostamos, ou que odiamos… Se não as conseguirmos ultrapassar, elas vão continuar a perseguir-nos… Como diz o Kevin Hart “Não tenho tempo para estar chateado”. Estamos neste mundo tempo finito e estar a gastar esse tempo com raivas ou aversões só vai atrasar a nossa caminhada... Vai ser um desperdício do precioso tempo e energia que temos.

Pode ser um trauma de infância, uma relação mais negativa com um colega, uma situação que não correu da maneira que desejávamos… Não importa. Se não ultrapassarmos essa aversão, vai continuar a pesar na nossa cabeça e eventualmente, vamos acabar por descer a montanha e desistir…

Dullness/Heaviness

“The Heaviness of the body – The Dullness of the mind.”  —  “O Peso do Corpo – A Apatia da Mente”

É caracterizada por sonolência, falta de energia, falta de motivação… Muitas vezes é um estado de depressão.

Este obstáculo é como estar preso numa cela. É um bloqueio principalmente mental que torna difícil fazer qualquer esforço físico e mental… Para continuar caminho temos que sair desta prisão.

No momento em que acontece, este deve ser dos obstáculos mais difíceis de ultrapassar… Pelo menos para mim. Tenho consciência do que tem que ser feito, que é bom para mim, que se não fizer vou estar a acumular e a adiar o “sofrimento”, mas não consigo bater a “energia de ativação” necessária para sair da prisão. É um bloqueio mental que nos deixa apáticos e que nos deixa com ainda menos motivação de cada vez que “perdemos a batalha” e não fazemos o que sabemos que tem que ser feito…

A maneira de continuar caminho é sair da prisão… Temos que conseguir bater a energia de ativação e obrigar-nos a fazer as coisas… Claro que há diferentes situações – fazer a mesma tarefa requer diferentes níveis de esforço/energia/motivação para diferentes pessoas… Principalmente se estiverem com uma depressão.

Na minha vida encontro muito este obstáculo associado aos outros 4 e não como um problema singular… Cada vez mais estou atento à minha saúde mental para entender quando é que isso acontece e tentar combater esse estado mental, porque se ficar na prisão não vou a lado nenhum… e eu quero ir longe (vou viver mais 100 anos xD tenho que fazer alguma coisa de jeito 😉 )

Restlessness

É um estado em que a nossa mente não descansa, não para no momento presente.

Uma mente perturbada está sempre preocupada com o futuro ou a viajar ao passado, a rejeitar e a julgar algo que aconteceu… O Mestre chama-lhe a “mente macaco”, sempre a saltar de um ramo para o outro sem se conseguir manter no momento presente…

Pode-se manifestar de várias formas… Podemos estar presos no passado a rejeitar e a julgar algo que aconteceu – Podemos estar presos a sucessos do passado em vez de estar atentos ao presente.
Podemos estar a sonhar com o futuro, ou ficar ansiosos com o que pode acontecer no mesmo, em vez de agir no presente para seguir o caminho certo

Durante os últimos meses tenho tido alguma dificuldade com este estado mental. Tento estar o mais presente possível e pensar nos passos que posso dar para continuar o meu caminho, mas o meu cérebro salta para o passado e para o futuro a cada oportunidade que tem, o que torna difícil ver com clareza qual deve ser o meu próximo passo…

Independentemente da maneira como este obstáculo se apresente, ficamos perturbados e não conseguimos avançar. Não encontramos tempo para parar, aceitar o momento presente e pensar nas coisas claramente…

Sceptical doubt

Estado mental baseado na incerteza / indecisão.

Ficamos perdidos nos pensamentos em vez de agir. “Será que consigo fazer isto?” “Será o caminho certo?” “E se fizer isto?” “E se fizer aquilo?”

A mente não está sincronizada com as ações. Ficamos desconectados dos objetivos e aspirações que temos de nós próprios. Quando a mente está cheia de dúvidas, o provável é parar em vez de avançar…

Eu consigo identificar os outros 4 estados mentais em certas alturas da minha vida. Mas sinto que este é aquele contra o qual mais luto, está presente em toda a minha vida…
Estou sempre a pensar “E se eu fizer isto…?” e acabo por não fazer nada, ou por não dar 100% naquilo que faço. Estou a escrever este texto e tenho vários “E se’s” na minha cabeça…

Nós não sabemos tudo. Temos que aprender a colocar a mão na massa. Temos que experimentar algo para saber se funciona para nós ou não…
Mas provavelmente queremos saber o que vai acontecer antes de nos comprometermos a percorrer um certo caminho, porque temos medo do que está mais à frente… Como não sabemos, ficamos presos…
A certa altura já esquecemos o objetivo inicial. Só queremos o caminho menos doloroso…

Li algo que o Jordan Peterson disse que se reflete no meu caso. Vou colocar aqui um vídeo em que ele fala sobre isso.
Quando somos crianças somos só potencial, podemos ser tudo o que quisermos… Com o passar do tempo somos obrigados a especializar-nos em algo. Eu gosto de ter o potencial para ser tudo… Não quero perder isso, então “resisto” a especializar-me – a “amadurecer” – fico com medo de tomar a decisão errada… Então estou constantemente a questionar-me “E se…” sem nunca tomar uma ação concreta.

As dúvidas só bloqueiam o caminho, temos que conseguir relembrar o objetivo inicial e tomar uma decisão… depois vemos o que acontece e continuamos o nosso caminho uma decisão de cada vez.

Ok, agora que identificamos os 5 obstáculos ao domínio próprio, o que podemos fazer?

Idealmente, temos que alinhar e estruturar a vida de modo que estes obstáculos não apareçam.

Caso apareçam – o que acaba por ser quase inevitável – preciso de técnicas para os remover…

Shi Heng Yi compara os obstáculos a nuvens que escurecem a nossa mente… só temos que deixar chover. A citação é:

“Each of these hindrances is placing a dark cloud over my mind… just let it RAIN”

R.A.I.N.

é a sigla utilizada para descrever os 4 passos que nos ajudam a ultrapassar os diferentes obstáculos.

  • Recongnize
  • Accept
  • Investigate
  • Non-identify

 Recognize

  • Reconhecer o estado mental em que me encontro. Eu, por exemplo, estou no Restlessness e no Sceptical Doubt no momento em que escrevo este texto.

Accept

  • Aprender a aceitar e permitir a situação ou a pessoa ser como é… Se não é algo que pode ser mudado, então deve ser aceite.
  • Não é por pensar com muita força no assunto que o Corona Vírus vai desaparecer (por exemplo…). Há coisas que não é possível mudar, quer seja um vírus, um acontecimento passado ou outra coisa… Enquanto não aceitarmos que é algo que está fora do nosso controlo – quer seja por ser um acontecimento passado ou por não termos poder de o controlar no presente – não conseguimos seguir em frente…

Investigate

  • Investigar o meu estado mental e emocional.
  • Fazer perguntas:
    “Porque é que isto veio ao de cima?”
    “Quais vão ser as consequências se eu continuar desta maneira?”
  • Este passo é importante… Considero-o parecido ao Fear Setting – do qual falo aqui -, se bem que mais “soft”. É importante entender o porquê de certas emoções aparecerem de modo a conhecer-mo-nos melhor.

Non-Identification

  • Sabermos aquilo que somos… Eu não sou o corpo, não sou a mente e não sou a emoção… Mas consigo observar os 3.
  • Por exemplo, se eu estiver furioso a ter uma discussão, a emoção sobrepõe-se à mente e não consigo pensar direito.
  • Conseguir estar presente e ver os 3 aspetos da minha vida sem sobrepor nem negligenciar nenhum deles é algo mais difícil que o que parece… Ando a pensar sobre o assunto e a tentar desde que vi a Ted-Talk pela primeira vez, mas é uma coisa mais profunda que o que inicialmente parece… No entanto, é crucial para ganhar clareza e conseguirmos tornar-nos mestres de nós próprios…

 

Ao deixar “chover” nos nossos obstáculos, as nuvens cinzentas acabam por dissipar e o caminho torna-se evidente.

Se percorrermos o caminho, eventualmente chegamos ao cume da montanha e podemos admirar a vista, tendo alcançado clareza mental e domínio próprio.

Conclusão

Esta Ted-Talk deixou-me a pensar e espero que também vos tenha deixado a pensar…

Há vários caminhos que cada um de nós pode percorrer e não há um mais correto que o outro. O mais importante é mesmo dar um passo de cada vez e decidir qual o passo seguinte. Sem parar, sem nos distrairmos, sem nos chatearmos, sem perder motivação… e para isso é necessário disciplina. Citando o Mestre Shi Heng Yi: “A disciplina é o princípio, a habilidade que nos vai fazer levantar e trabalhar outra vez para aquilo que queremos!”.

De certeza que vamos falhar algumas vezes durante a caminhada, mas com ferramentas para ultrapassar os obstáculos que apareçam, conseguimos continuar até ao cume!

Vou só terminar com esta citação que achei incrível:

“There are two mistakes along the way to Mastery:

Not Starting It and Not going all the Way.”

(Existem dois erros no caminho para nos tornarmos mestres: Não começar e não ir até ao fim.)

 

Obrigado, e até para a semana =)

Ricardo Ribeiro

História

  • Um homem vivia perto de uma montanha. Todos os dias pensava “como será subir a montanha e ver a vista do outro lado.”
  • Um dia, começou a sua viagem e ao chegar ao sopé da mesma encontrou um viajante que voltada da sua jornada. O homem perguntou-lhe:
  • “Como subiste e o que viste lá em cima?” – O viajante partilhou o caminho que percorreu e aquilo que viu…
  • O homem não ficou satisfeito… “A maneira dele é demasiado difícil…” “Tenho que encontrar outro caminho…”
  • Continuou a caminhar até encontrar outro viajante… E depois outro, e depois outro… Sem nunca subir a montanha.
  • Eventualmente, o homem decidiu “Agora que já sei os vários caminhos e o que várias pessoas viram do outro lado da montanha, já não tenho que a subir…”
  • E assim o homem nunca foi à aventura…
    Cada individuo tem de encontrar a melhor maneira de subir a montanha, porque apesar se ser possível partilhar informação do caminho que se percorre, é impossível partilhar o sentimento de clareza sentido quando se está no topo da montanha sozinho.