Olá equipa! Como estão?
Há umas semanas tive uma boa conversa sobre assertividade e como eu procuro ser uma pessoa mais corajosa e assertiva no meu dia a dia. E este parece-me um óptimo tema para uma publicação! Então, aqui vai ela ^^
Colocando a parte “seca” primeiro, exatamente, o que é ser assertivo?
Começo por aqui, porque cada vez mais considero importante deixar bem claro os conceitos que utilizo para evitar interpretações indesejadas! Bem, segundo o priberam, isto é o que obtemos:
Alguém seguro, frontal, sem hesitações, que consegue defender-se a si e aos outros, que tem coragem para dizer aquilo que sente e pensa honestamente, independentemente da situação. – isto são as minhas associações, quando penso no meu “eu” futuro ideal.
Tenho uma admiração profunda pelas pessoas que se conseguem comportar deste modo!
A assertividade está principalmente associada com o traço de personalidade “agradabilidade” – do modelo Big Five -, estando também associada à extroversão, e apesar de eu não ter encontrado nenhum estudo sobre o assunto, também penso que esteja um pouco associada ao neuroticismo. – No futuro farei uma publicação sobre este modelo de representar a personalidade.
- Pessoalmente, não gosto das traduções para português “agradabilidade” e “amabilidade”, por isso vou usar as expressões em inglês, agreeableness e para me referir à pessoa uso agreeable – em vez de agradável – porque posso 🙂
As pessoas com este traço de personalidade são consideradas amáveis, acolhedoras, simpáticas, perdoam o outro e se preocupam com a harmonia social. No outro lado do espectro, as pessoas mais disagreeable, podem ser vistas como rudes, vingativas e cruéis. – Um bom exemplo de pessoa com traços de agreeable é o Marcelo (o presidente tuga), e alguém disagreeable é o Trump (ex-presidente dos EUA).
Apesar de estes opostos terem uma conotação positiva vs negativa (agradável vs desagradável), ambos são necessários para o ser humano! E nós estamos distribuídos por todo o espectro entro os dois polos!
– Por exemplo, quem tem traços de ser agreeable, tende a evitar discussões, mesmo quando são necessárias, enquanto pessoas disagreeable tendem a procurar – ou estão confortáveis com – um bom conflito e não fogem de discussões – muitas vezes até precisam delas como estímulo…
Eu sou alguém com uma personalidade agreeable! Não gosto de conflito, tento evitá-lo ao máximo, e quando tenho uma discussão, o meu coração começa a bater rápido, a minha barriga fica embrulhada, receio rejeição social, e é-me complicado lidar com essas situações.
- Quando eu era mais novo, os meus pais (especialmente o meu pai) diziam-me várias vezes: “És muito inocente! Não podia deixar os outros trepar por mim acima!” – bem, eles têm razão… Obrigado pelo aviso pais 😉
Historicamente, sempre me senti melhor a conviver com raparigas. Isto porque elas são muito mais simpáticas xD – entre os grupos de rapazes (com exceção do grupo de machos com quem convivi na universidade) eu era sempre um dos mais agreeable e não me sentia confortável. Era-me muito mais confortável conversar, fazer trabalhos de grupo, estudar, etc, com raparigas porque as discussões eram mais leves, era mais fácil eu expressar a minha opinião e eu não me importava com os dramas hehe. – Agora isso faz-me sentido, porque, efetivamente, agreeableness é o traço de personalidade (junto com neuroticismo) em que se nota mais diferenças entre homens e mulheres. Mulheres são em média mais agreeable que os homens e vice-versa.
- Engraçado como as coisas fazem sentido!
Ser agreeable também era de certa forma visto como uma fraqueza entre os meus colegas, e tornava-me um alvo apetecível para outros mostrarem a sua dominância xD
Eu acabava por guardar para mim o que queria dizer, e isso pode facilmente virar alguém ressentido e revoltado com a outra pessoa.
Isto é um perigo em várias situações ao longo da vida, por exemplo, num casal em que uma pessoa é muito agreeable e a outra muito disagreeable. Uma delas vai monopolizar os conflitos da casa… E a outra, se não for assertiva o suficiente para conseguir manter limites claros que não podem ser ultrapassados, vai acabar por começar a sentir-se reprimida, porque não expressa o que realmente sente – para não piorar o conflito – e tem que levar com as críticas do(a) conjugue. — Isto podia ser os 3 R’s – Ressentido, Revoltado e Reprimido hahaha
Com o passar dos anos, tornei-me mais confortável com o conflito – especialmente após começar a esforçar-me consciente para aprender a comportar-me nessas situações. Tenho que admitir que ter um Pai e um irmão em casa que são bastante disagreeable ajudou a desenvolver esta tolerância ao conflito e a defender a minha posição.
Outro ponto importante, que está correlacionado com agreeableness e eu pessoalmente também associo a assertividade, é ser claro na comunicação. É incrível a diferença que comunicação clara faz… Não há tanto espaço para mal-entendido e diminui a zona de incerteza. Uma característica minha (e de outras pessoas agreeable), é não deixar a mensagem clara. Por vezes porque não me sinto confortável com a verdade; porque estou incerto em relação à reação da outra pessoa; porque tenho medo do que posso perder; porque não quero magoar alguém,…
E regra geral, ambiguidade é das melhores amigas dos mal entendidos. Pode levar a que a outra pessoa ache que as suas ações não têm problema, quando devia ter ficado explicito que não é comportamento correto, pode levar a que eu seja “friend zoned”, porque não tive coragem de partilhar os meus verdadeiros pensamentos – como partilho na parte inglesa ^^ -, pode levar a que a minha posição em relação a determinado assunto seja mal interpretada, etc. Eeeee a culpa pelo mal-entendido é um em boa parte minha!
- Então, foco na comunicação é algo importante!
Em 2021 fiz um teste de personalidade “big five”, e neste traço fiquei praticamente a meio! Ou seja, num grupo de 10 pessoas random, eu vou ser mais agreeable que 4/5 e outras 4/5 vão ser mais agreeable que eu.
Este resultado faz sentido, visto que eu sinto que mantenho o meu foco no outro, a tentar que ele se sinta confortável e acolhido, mas agora não fujo tanto de discussões. Não tenho medo de discordar e de não “agradar a toda a gente”. Na tentativa de caminhar para a pessoa que quero ser, reparei em mudanças em vários pontos da minha personalidade… Este foi dos mais pronunciados. Ao querer tornar-me alguém mais assertivo e corajoso, comecei voluntariamente discussões e conflitos que considero interessantes e/ou necessários, enquanto no passado, simplesmente evitaria a situação.
– Atenção!!! Eu continuo a evitar imensas situações de conflito hahaha. E em algumas delas sinto que devia falar – e não tenho ainda a coragem de o fazer – porque como referi antes, eu sei que evitar um conflito, pode ser adiar a situação… Estou a sacrificar o meu futuro – onde provavelmente terei a mesma discussão, mas com o problema agravado por ainda não ter sido resolvido – em prol da paz do presente…
– E não é só o confronto! Como falo em “Courage to speak my mind?“, isto também se aplica com relações, expressar sentimentos e coisas desse género. Work in progress ^^ Com este objetivo de caminhar para um Ser Humano mais corajoso e assertivo, que concilia essas características com compaixão e cuidado pelo próximo, decidi fazer um desafio a mim próprio. Até ao final do ano vou ser brutalmente honesto e dizer a verdade independentemente da situação. De cada vez que não o faça, vou doar 10 € para a caridade.
Isto talvez pareça fácil para quem lê, mas pelo menos para mim é “fking hard”… Claro que não vou andar por aí a dar opiniões a quem não as pede, também não significa que vou falar de coisas sobre as quais não tenho conhecimento, como se fosse um expert só para ter uma opinião e dizer “a minha verdade”.
O desafio passa por ser honesto em relação ao que penso e sinto, e comunicá-lo da forma mais clara possível! Ter coragem de dizer a verdade a alguém mesmo quando dói. Conseguir dizer:
– “isto não está a resultar, temos que seguir cada um o seu caminho”;
– “não concordo com este comportamento, é algo que temos que discutir”;
– “quero ter uma relação contigo“;
– “ontem fui injusto contigo, desculpa“;
– “se esta situação não se alterar, vou começar a procurar outro emprego chefe“;
– “amigo, não acho que estejas a seguir o caminho mais saudável na tua vida”;
São tudo conversas difíceis que prefiro evitar, mas, ao mesmo tempo, também podem ser necessárias!
E como eu sinto que continuo a hesitar em muitas situações onde não o quero fazer, é uma forma de puxar-me na direção que quero seguir!
Claro que o desafio também conta para coisas banais, por isso se me perguntares “está tudo bem?”, é possível que eu te responda que “não” e te diga a verdade, apesar de não teres o mínimo interesse e estares só a ser cordial hahaha
Se se quiserem juntar ao desafio estão à vontade! Assim é mais dinheiro que vai para a caridade 😉
Bem, acho que é isto a publicação… Obrigado por lerem e até à próxima!
P.S.
Enquanto fazia pesquisa para esta publicação, encontrei alguns artigos científicos interessantes. Entre eles, este: Do nice guys – and gals – really finish last? – sobre a relação entre agreeableness e o “sucesso” corporativo. Caso tenham preguiça de ler, fica aqui o artigo resumo.
- Basicamente o estudo refere que existe uma correlação entre homens agreeable ganharem menos pelo mesmo trabalho homens que homens disagreeable. (não foi encontrada uma correlação similar entre mulheres).
E também o Damned if she does, damned if she doesn’t – que fala sobre as diferenças entre género no mercado de trabalho e também faz uma correlação com agreeableness.
- Engraçado, que este contradiz um pouco o outro! Não encontra correlação entre homens para agreeableness e diz que mulheres são afetadas negativamente quando estão num dos extremos do espectro (ou muito agreeable, ou muito disagreeable).
Como última recomendação, deixo esta publicação de random blogger, que também fala do primeiro estudo que referi, e complementa falando sobre liderança!